sábado, maio 26, 2007

Ainda sobre Procurar e Encontrar…

Hoje fui à feira do livro, pela primeira vez sem uma lista de títulos e editoras que me guiassem o passeio pelasbarraquinhas. Muitos livros vieram ter comigo tocando um estado de espírito, um sonho, uma pessoa ou um interesse actual… Deixei ficar alguns para depois… Parei perto dos livros de suicídio sabendo que já não fazia sentido investir tanto ali, naquele sonho de tantos anos que por minha vontade e factores externos, não se vai concretizar… Abandonei os corvos de Avalon e a casa da floresta, esperando melhores dias…
Folheei histórias bizarras, li episódios mirabolantes, encontrei livros do passado que voltaram a fazer sentido, fiz achados raros e comprei muitos livros, para mim e para não-mim e gastei muito pouco com isso…
E nem sequer os procurava…

domingo, maio 20, 2007

“- (...) Poderei talvez dizer que procuras demasiado, que enquanto procurares nunca conseguirás encontrar.
- Como assim? – perguntou Govinda.
- Quando alguém procura – respondeu Siddhartha – pode acontecer que os seus olhos vejam apenas a coisa que ele procura, que não permitam que ele a encontre porque ele pensa sempre e apenas naquilo que procura, porque ele tem um objectivo, porque está possuído por esse objectivo. Procurar significa ter um objectivo. Mas encontrar significa ser livre, manter-se aberto, não ter objectivos. Tu, Venerável, és talvez um homem à procura, pois, perseguindo o teu objectivo, muitas vezes não vês aquilo que está perante os teus olhos.”


In Siddhartha, Herman Hesse

Procurar, Procurar, Procurar…
Em vez de caminhar para uma decisão informada só tropeço em dúvidas… cada vez mais dúvidas…
É difícil escolher a nossa vida para o próximo ano, ainda mais quando há vulcões por perto que não sei quando poderão entrar em erupção nem os estragos que vão fazer.
Até o meu grande sonho de ir trabalhar inicial se está a assombrar de fantasmas que começam agora a ganhar forma. Porque esta semana me chamaram numa aula “Ana, Ana, para onde vais?” e eu percebi, naquele momento, que tinha medo e que não o queria admitir. E porque, no dia seguinte, me perguntaram se esse medo era dos “Senhores grandes”… E era-o de facto… Ler é estar perto, quase tão próximo que me parece que posso saber os pensamentos dos autores… Estar na sua presença imponente é outra história…
E autonomia para ser eu e criar!?
Segundo as pessoas que interessam, a pergunta é: “O que tenho eu para oferecer de novo a esta instituição?”… Mas eu tenho perguntado: “O que me deixam fazer de novo nesta instituição?!”
Sou pequenina mas sei que com boas indicações posso voar alto. Não quero fazer mais do mesmo, não quero viver by the book, não quero o relatório do ano passado…
E no entanto sei que posso ter todo esse céu para voar mas sem sair de onde estou… Espaço suficiente, asas cortadas…


Hoje escrevo para me organizar, para monitorizar o meu processo de escolha, pois os próximos dias trazem mais toneladas de informação que posso não conseguir assimilar…

Porque é que tem que ser tudo ou nada!?
Escolher é tão difícil…
Mais ainda quando sempre soube o que queria… achava eu…

terça-feira, maio 01, 2007

Nada do que tenho é realmente meu.

Preciso de música. Procuro uma suficientemente neutra que seja boa companheira de devaneios matutinos. Seria reconfortante ouvir uma melodia que seguisse o meu pensamento e consumisse os meus receios e frustrações… Poderia olhar para aquele cantinho da Serra, ao nascer do sol, tendo a minha canção como companhia. Apercebo-me então de que ela não existe e todas as músicas da minha playlist têm mais do que um dono. Nenhuma é apenas minha… Ana’s song, just be simple, lioness, hate me, fade to black, ache for you, girl&the ghost, give me a reason, rest in pieces, hedonism, golden cage, one, you ought to know, a waltz for a night, ouvi dizer, somewhere only we know, conta-me histórias, the river, gente perdida, world hold on, cúmplices, crazy diamond, inside my head, 3am, lightning crashes, 8th floor balcony, monotone, vem rastejar, the dancer… Nenhuma delas é minha, só minha que a possa ouvir sem me recordar de outros tempos e de outras pessoas, de outros lugares e de outros eus… São sempre de mais alguém, de mais algum acontecimento, de um sitio qualquer no mundo ou na minha mente. O denominador comum são as pessoas. Elas pontuaram as minhas canções que não são delas porque as possuíram, mas porque possuíram o tempo da minha mente numa determinada época. Relembro algumas. Não sinto saudade pois cada pessoa tem o seu espaço-tempo, mas recordo nostalgicamente cada pessoa da minha vida… Os meus meninos, os meus The One’s que nunca o foram mas também não deixaram de ser, os confidentes, os deambulatórios, os ombros, os abraços, as conversas, as promessas e os “para sempres”. Todos têm um lugar, um cheiro, uma cor, uma melodia… Com todos, refiro-me às pessoas e aos acontecimentos que já em si são pessoas. As coisas importantes da vida não ocorrem isoladas, a menos que seja uma espécie de “aparição de mim a mim mesmo”, o que, ainda assim, tem grande probabilidade de ser despoletado por alguém. Os momentos que marcam acontecem geralmente num contexto de uma relação que tem o seu lugar, o seu cheiro, a sua melodia. Assim, nenhuma dessas coisas é apenas minha. Há um processo de partilha constante e, por vezes até, subliminar, que vai impregnando dos outros tudo aquilo que julgamos ser nosso.
E hoje fazia-me falta uma canção que não lembrasse ninguém, mas tudo quanto faço soar me traz um lugar, uma cor, uma época e, consequentemente, um alguém. Porque eu não posso, como ninguém pode, viver a vida de longe. As pessoas estão lá, diferentes a cada momento, únicas nas suas particularidades, tatuadas na minha pele e nas minhas canções.

Nada é realmente e somente meu.




[….Entre uma estação e outra, numa segunda feira de manhã.]