segunda-feira, março 24, 2008

Her Scarf

sábado, março 22, 2008

Outono


Hoje, só por ser Outono, vou chamar-te "meu amor"
Contra as regras do que somos, vou chamar-te "meu amor"
Hoje só por ser diferente te encontrar


É tanto o fado contra nós
Mas nem por isso estamos sós
E embora fique tanto por contar
Hoje, só por ser Outono, vou...

Entre dentes, entre a fuga, vou chamar-te "meu amor"
Enquanto não se encontra forma, vou chamar-te "meu amor"
Entre gente que é demais e tão pequena para saber

Que é tanto vento a favor
Mas tão pouco o espaço para a dor
Só pode ficar tudo por contar...
Hoje, só por ser Outono, vou...

E há flores e há cores e há folhas no chão
que podem não voltar...
podes não voltar.
Mas é eterno em nós
e não vai sair...

Desce o tempo e a noite vem lembrar que as tuas mãos
também
já não são de nós para ficar

Por ser tanto quanto somos
Certo quando vemos
Calmo quando queremos
Hoje, só por ser Outono, vou...



Tiago Bettencourt



Cx/'

sexta-feira, março 21, 2008

A noite cai suavemente sobre as ruas, os montes, as praias e os bairros. Aconchega-se demoradamente e instala-se. É uma noite diferente esta. A estabilidade do quase pesa a cada minuto longe; a impossibilidade deixa de adoçar os pequenos gestos e amargar a ausência; o comodismo da inércia começa a tomar lugar.

É possível vislumbrar um futuro para o qual não vejo o caminho, mas sei que não é este. As palavras perdem-se no abraço rápido do tempo e não deixam revelar o que grita em silêncio nesta apatia. Sinto-me a remar sem exercer força contra a água na falsa crença de chegar a algum lugar.

A noite é mar de mudança, mas ultimamente tem sido como um lago que gelou. Posso continuar a patinar suavemente sobre a sua superfície fria e brilhante durante muito tempo. Mas sei que o meu “eu” verdadeiro deveria estar a dançar e estilhaçar o manto branco, deixar a água correr em rápidos e inundar as margens para regar as flores que crescem na Primavera. Eu deveria estar a fazer ondas, ondas de mudança.

Estagnada na espera, a sufocar no “tem que ser”, movo-me devagar pela noite desejando que o tempo passe, mas que seja leve e que traga aquela calma com entusiasmo e vontade de transformar. Um dia, talvez…