sexta-feira, março 21, 2008

A noite cai suavemente sobre as ruas, os montes, as praias e os bairros. Aconchega-se demoradamente e instala-se. É uma noite diferente esta. A estabilidade do quase pesa a cada minuto longe; a impossibilidade deixa de adoçar os pequenos gestos e amargar a ausência; o comodismo da inércia começa a tomar lugar.

É possível vislumbrar um futuro para o qual não vejo o caminho, mas sei que não é este. As palavras perdem-se no abraço rápido do tempo e não deixam revelar o que grita em silêncio nesta apatia. Sinto-me a remar sem exercer força contra a água na falsa crença de chegar a algum lugar.

A noite é mar de mudança, mas ultimamente tem sido como um lago que gelou. Posso continuar a patinar suavemente sobre a sua superfície fria e brilhante durante muito tempo. Mas sei que o meu “eu” verdadeiro deveria estar a dançar e estilhaçar o manto branco, deixar a água correr em rápidos e inundar as margens para regar as flores que crescem na Primavera. Eu deveria estar a fazer ondas, ondas de mudança.

Estagnada na espera, a sufocar no “tem que ser”, movo-me devagar pela noite desejando que o tempo passe, mas que seja leve e que traga aquela calma com entusiasmo e vontade de transformar. Um dia, talvez…

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