domingo, abril 05, 2009

Sou bastante sensível a ambientes. Daí surgem as minhas mudanças frequentes de humor e também a já falada necessidade de me sentir em “casa”. Assim, os lugares assumem uma grande importância pela sua capacidade de me fazerem sentir parte ou não.
Hoje descobri mais um lugar onde sinto pertencer.
Este.
E até já tenho a promessa da reprodução de alguns destes factores, daqui a uns anos, no nosso jardim…

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Eis o que sou. Um corpo sentado no chão da praça de uma grande cidade. Olhos fechados que segregam os estímulos, olhos que se abrem para captar a essência dos momentos. Membros que se articulam para medir a luz em simultâneo com a escolha do enquadramento final… um com o poder de fazer sobressair as raízes daquele lugar. O chão, as pessoas que se movimentam a passos mais ou menos rápidos à minha volta e que mais ou menos dão pela minha presença, o Sol que me aquece, a certeza de que estás na outra ponta da rua a sentir o mesmo, a verdade absoluta de que sou real e que há um sentido.
Agradeço os dias repletos da arte que grita para ser vista; recordo as conversas que agitaram a matéria para a/me transformar em algo melhor; reflicto sobre o que me sou. Concluo que afinal ainda aqui estou e que é preciso um esforço imenso para manter este sentido ao voltar a “casa”. E para quando uma casa?
Enfim… estes últimos dias deram-me mais uma.
Obrigada Madrid.


quarta-feira, janeiro 07, 2009

Só me lembro de ter sentido algo como isto numa situação como esta, há exactamente seis anos atrás. Muito mudou desde então, eu mudei também, mas sensação de não pertencer a lado nenhum é horrivelmente a mesma. Porque hoje é um dia importante e estou sozinha. Completamente sozinha num abismo de onde só eu posso encontrar uma forma de sair. A cada momento que passa as forças abandonam-me. Culpo-me por não me debater. E se me apanho a aproveitar um pequeno momento de felicidade, logo me culpo por acreditar nessa ilusão. Arrependo-me e torturo-me por estar a saborear uma futilidade. Sinto-me a corroer por dentro. Culpo-me também por me permitir este estado quando alcancei muitas das coisas que queria, como se fosse mal agradecida a mim mesma. Já nem consigo detectar o que realmente está mal, já nem consigo perceber o que devo fazer e o que devo fazer primeiro. Sei que é preciso mudar, mas não sei para onde. E porque é que as coisas que me fazem sentido só brilham por um instante e segundos depois desvanecem-se dando de novo lugar ao negro?! E porque razão não me deixo simplesmente levar quando me oferecem ajuda?! Talvez isso queira dizer apenas que tenho alguma força para mudar sozinha… Ou então, é somente sinal de que me vou afundar sozinha. De uma forma ou de outra, eu sou causa e consequência do que se passa em mim mesa. E simplesmente, não consigo sair de onde estou como mosca que cai na teia e mais presa fica à medida que se tenta soltar. A noa notícia é que a teia não arde… but “if there’s nothing left to burn, you have to set yourself on fire”.
Pelo menos consigo imaginar exactamente onde queria estar neste momento. Não que isso resolvesse alguma coisa, mas pelo menos aliviava este cansaço existencial. Momentaneamente. Para logo de seguida voltar a culpa, o desânimo e mais não sei o quê que me corrói. Mas neste momento, nem isso.
É quase meia-noite e as únicas palavras que fazem sentido são, mais uma vez:

(…)
Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
Mas passam sem que o seu passo seja leve.
Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter.
Sentir.
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.(…)
(Álvaro de Campos)

quarta-feira, setembro 24, 2008

The unforgiven iii

no próximo ano espero ouvir esta contigo Cx/' *

quinta-feira, setembro 11, 2008

Desde quando é que é suposto sentirmo-nos culpados por viver as nossas vidas?
Tendo já em consideração que temos que respeitar os outros e as suas várias formas de integridade física e psicológica, onde começa a liberdade humana?

Alguém disse uma vez:

“Agradeço aos meus pais terem sabido tomar conta do meu corpo. […]
Os pais […] transmitem apenas a cegueira necessária à sobrevivência diária.”
*

Já muitas pessoas se chocaram com a repetição desta ideia, mas ela continua escrita no meu quadro de cortiça e cada vez mais presente na minha vida.
É verdade que temos responsabilidades para com as pessoas que já cuidaram de nós e que de certa forma continuam a pagar as contas da casa, mas quando essa responsabilidade nos é arremessada sob a forma de chantagem emocional em prol de um alegado “abandono” que apenas quer dizer “crescer”, começa decididamente a interferir com a liberdade humana.
O meu eu mais profundo estaria neste momento em alguma parte do mundo a investir em formação com os melhores, ou a fazer uma reportagem fotográfica para uma grande agência. Ligaria todos os dias para “casa”, claro, estaria presente quando necessário, mas passaria os dias a aprender ao sabor das oportunidades e do meu mais elevado sentido de verdade.
Tenho lutado contra esta necessidade durante anos, ou pelo menos tentando encontrar-me nos pequenos desafios da vida que vou tentando (que me deixam tentar? Que deixo que me deixem tentar?). Procuro um meio termo que me permita estar por perto e apoiar quase constantemente os que tomaram conta de mim, ou pelo menos “do meu corpo”.
Quando começo já a pensar que, perto da morte, me vou arrepender de não ter vivido a minha vida, pedem-me ainda mais cedências através de caprichos. E eu, com medo da culpa, cedo. E vou-me sentido cada vez mais um não-eu, com, paradoxalmente, cada vez mais culpa.


E quando a culpa por ter cedido e dado mais um passo atrás no caminho é superior à culpa de dizer “não”?!


E hoje, agora, o meu lugar não é aqui, não a escrever estes textos decadentes nem a chorar por culpa da culpa, quase culpando-me de querer ser eu. O meu lugar neste momento seria naquela curva quentinha, onde posso ser tudo e continuar a crescer.


Mas acredito que um dia me consiga sentir plenamente “em casa”.



* In Lições do Abismo, Daniel Sampaio

quinta-feira, setembro 04, 2008

Ouço a coruja no pinhal lá fora, companheira de tantas noites de escrita e decadência. Mas não hoje. Sempre renovadora, a escuridão traz um melhor fado desta vez. Voltar a ver-te, a ouvir a tua voz, a esconder-me na curva do teu pescoço.

Já disse aqui que todos os sentimentos místicos implicam a anulação do eu. Quem me conhece sabe que faço os possíveis e impossíveis para manter a minha individualidade em todas as situações. Então de onde vem este paradoxo da minha existência não fazer sentido sem ti? Admiti. Pronto. Pára de me torturar, consciência severa!

O par tem três partes como dizia a Satir: eu, tu e nós. E se há momentos em que o nós prevalece, porque não? Desde que as outras partes continuem a fazer crescer o eu e o tu!
Já me justifiquei o suficiente… A verdade, a essência daquilo que eu sinto, é que o eu que construí precisa daquele nível de partilha que conseguimos atingir. Precisa das noites de quarto minguante e pores-de-sol com banda sonora privilegiada. As minhas ideias estão fragmentas por falta de quem as complete. Afinal, não tínhamos já descoberto há muito tempo atrás que edificámos uma “mente sistémica”?!

E os medos?! De não ser capaz, de me prender, de cair no ridículo… Também eles me estão a abandonar a poder de uma força maior. Esta é uma batalha que enfrento todos os dias, e cada segundo vale a pena.
E um ano mais tarde. Muitos anos mais tarde. Cá estamos nós de novo.


Nunca mais é amanhã.


Cx/' *

terça-feira, agosto 19, 2008

Síndrome da Garrafa de Champanhe.

Síndrome ou parte integrante de cada ser? Não consigo decidir.


Olho para trás e para as pessoas com quem me fui cruzando. Olho para mim. (Não será afinal a mesma coisa?)
Há algo de comum nestes encontros, algo que se vai desenvolvendo e renovando. Somos como uma garrafa de espumante. Por vezes o mundo vem abanar-nos. Uma pessoa pode facilmente criar uma entropia de ideias, a comichão de uma dúvida, a inquietude de uma emoção. Condições mais intensas tiram-nos a tampa. Precisamos de explodir pois já não é possível conter a pressão das ideias, dos sentimentos, da dor… Quem nos rodeia pode pensar que enlouquecemos mas no fundo estamos apenas em transformação, em desenvolvimento. Ressacamos da perda ou da conquista, digerimos a mudança. É tempo de calmaria. Sim. Devemos voltar a rolhar a garrafa para que as bolhas que nos impelem a lutar e a crescer não se percam na estagnação do hábito, até que nos permitamos ser abalados de novo.
Isto é viver.

domingo, agosto 03, 2008

Bem.
Um quarto à média luz, a música certa, a temperatura adequada. O Silêncio imperturbável da noite lá fora. Estou bem. Como se nada faltasse a este projecto de vida que me sei. Sem pendentes ou incertezas urgentes, ou pelo menos não sofrendo por antecipação. Percebo que é possível sentir-me bem neste corpo que costumava carregar, neste mundo, nesta vida. Integro as minhas últimas conquistas e preparo-me com calma para as que hão-de vir. E finalmente, aceito o que construí e o que ainda tenho para trabalhar. E sinto-me bem.

terça-feira, julho 29, 2008

Voltei.
A sentir, a sonhar, a escrever.
O último ano de faculdade com todas as suas imposições e tudo o que tentava emergir dos resquícios da minha vida pessoal para me ocupar a mente, não deixaram espaço para estas 3 funções que fazem parte de mim.
Senti-me uma não-eu a tentar colocar pedaços de mim em tudo o que o meu eu (recente) e excessivamente profissional me exigia.
Hoje estou de férias. Automaticamente recupero os projectos e sonhos que construi ao longo dos anos e que, afinal, não me abandonaram. Recomecei a escrever também. A meta-análise constante da minha vivência começou a ser passível de partilha verbal. Hoje é tempo de dar palavras a este cantinho que tanto aconchego me tem dado.
Afinal não é só esta Felicidade recentemente reconquistada que causa a ausência de inspirações mais-que-frequentes. Afinal tentaram roubar-me a identidade durante 11 longos meses…


“Sim, mas ao mesmo tempo fortaleceu aquilo que precisamos para a vincar num mundo de competição e de ambição levados ao extremo
Quanto a mim estamos cada vez mais rodeados de situações que nos tentam roubar a identidade
Tornar-nos estereótipos de sociedades decadentes e que envergonham qualquer um!”
Caracóis

Voltei!

sexta-feira, junho 06, 2008

And Nothing Else Matters!

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters

Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don't just say
And nothing else matters

Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters

Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters

Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know

Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don't just say
And nothing else matters

Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters

Never cared for what they say
Never cared for games they play
Never cared for what they do
Never cared for what they know
And I know

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
No nothing else matters!!!


Cx/'

segunda-feira, maio 26, 2008

Yesterday,
all my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh I believe in yesterday.
Suddenly,
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me
Oh yesterday came suddenly...


Tenho acordado a cantar esta, vá-se lá saber porquê....
E se me fizesse uma análise descritiva-categorial segundo o modelo hierárquico do CMM, de certeza que o contexto profissional viria acima do self e custa-me a admitir que neste momento me esteja a definir em função do trabalho!
Vou internalizar as férias numa linguagem orientada para as soluções e pode ser que se materializem.

domingo, maio 11, 2008

As coincidências giram irónicas, a compreensão de quem partilha grita, as colheres continuam a chegar (e já são 10000) e admito, apetecia-me mesmo dar nomes às coisas nesse texto! só mm para ver como era qd o mundo lesse e me caisse em cima!!
"[...] que bom seria se eu pudésse [...] escrever aquilo que antes nunca teria escrito. admitir, aos meus olhos, o inadmissível. tentar acabar com uma espera semi-auto-imposta. "

Alanis, decididamente Alanis! Ou não fosse isto tudo tão irónico! Então porque é que os cogumelos infectados não me saem da playlist numa dança desesperada pelo ritmo alucinante do alheamento? Vê-se mesmo que te andei a ler, até as palavras já mastigo. Ou serão os silêncios que estão a ser ruminados?
Olha, e se pudéssemos ir buscar um cantinho do passado para ver como era agora? Assim só para amanhã ficar tudo na mesma. Será que o “azul-escuro” sabe diferente agora? Pelo menos a libertação cheira…
A incerteza causada pelas minhas próprias decisões não me deixa fazer aquilo que mais me faz sentir livre: jogar com as palavras hábeis, sorrisos manipuladores e regras só feitas por mim. O tempo passa, os jogadores mudam e eu vou-me sentindo intermitentemente preenchida até lançar de novo os dados.
Pela certeza de poder sentir tudo sem ter que acabar o jogo antes, prendi-me no caminho. Estou entrelaçada a ver a vida passar à minha volta. Para sair daqui e ver como é lá fora tinha que cortar as teias e uma vez que isso aconteça, não há retorno…
Ainda há uns dias chamava a isto a forma suprema de liberdade, por poder seu eu em qualquer ocasião. Pois bem, agora tocou a saudade do eu que fui.
A que saberá agora?

sábado, abril 26, 2008

Já tinha saudades da sensação do Sol a aquecer suavemente a minha pele, dos meus pés na areia molhada pela maré que desceu, do som das ondas a rebentar à minha frente. Deixo-me levar para Old Jerusalém enquanto fico deitada a sentir o abraço suave do calor e a ver as gaivotas a dançar no céu azul que me serve de tecto.


Subitamente apercebo-me da primeira certeza de verdadeiro bem-estar nos últimos tempos. Agora sei que deixei os pendentes em casa antes de me permitir duas horas de praia. A má notícia, é que já voltei.

segunda-feira, março 24, 2008

Her Scarf

sábado, março 22, 2008

Outono


Hoje, só por ser Outono, vou chamar-te "meu amor"
Contra as regras do que somos, vou chamar-te "meu amor"
Hoje só por ser diferente te encontrar


É tanto o fado contra nós
Mas nem por isso estamos sós
E embora fique tanto por contar
Hoje, só por ser Outono, vou...

Entre dentes, entre a fuga, vou chamar-te "meu amor"
Enquanto não se encontra forma, vou chamar-te "meu amor"
Entre gente que é demais e tão pequena para saber

Que é tanto vento a favor
Mas tão pouco o espaço para a dor
Só pode ficar tudo por contar...
Hoje, só por ser Outono, vou...

E há flores e há cores e há folhas no chão
que podem não voltar...
podes não voltar.
Mas é eterno em nós
e não vai sair...

Desce o tempo e a noite vem lembrar que as tuas mãos
também
já não são de nós para ficar

Por ser tanto quanto somos
Certo quando vemos
Calmo quando queremos
Hoje, só por ser Outono, vou...



Tiago Bettencourt



Cx/'

sexta-feira, março 21, 2008

A noite cai suavemente sobre as ruas, os montes, as praias e os bairros. Aconchega-se demoradamente e instala-se. É uma noite diferente esta. A estabilidade do quase pesa a cada minuto longe; a impossibilidade deixa de adoçar os pequenos gestos e amargar a ausência; o comodismo da inércia começa a tomar lugar.

É possível vislumbrar um futuro para o qual não vejo o caminho, mas sei que não é este. As palavras perdem-se no abraço rápido do tempo e não deixam revelar o que grita em silêncio nesta apatia. Sinto-me a remar sem exercer força contra a água na falsa crença de chegar a algum lugar.

A noite é mar de mudança, mas ultimamente tem sido como um lago que gelou. Posso continuar a patinar suavemente sobre a sua superfície fria e brilhante durante muito tempo. Mas sei que o meu “eu” verdadeiro deveria estar a dançar e estilhaçar o manto branco, deixar a água correr em rápidos e inundar as margens para regar as flores que crescem na Primavera. Eu deveria estar a fazer ondas, ondas de mudança.

Estagnada na espera, a sufocar no “tem que ser”, movo-me devagar pela noite desejando que o tempo passe, mas que seja leve e que traga aquela calma com entusiasmo e vontade de transformar. Um dia, talvez…

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Love Me Like The World Is Ending

Há dias que não criava uma playlist que realmente me apetecesse ouvir... nada de novo, apenas as mesmas excelentes canções ouvidas até à exaustão. Hoje encontro no novo álbum do Ben, uma lufada de ar fresco!

Longe de pertencer à lista das favoritas, aqui fica esta, como uma marca que me lembra que "depois do enfado, vem a frescura" :P

Beijinhos a vocês que continuam a passar aqui em vão à procura de algo para ler.



Cx/' boa viagem :P *

domingo, fevereiro 17, 2008

Não maninho, não abandonei o blog.
Mas não sei, faltam-me as palavras. Para os últimos tempos tenho canções, tenho lugares, tenho abraços, gargalhadas, tenho silêncios, tenho alguns sons e cheiros, cores e sabores, tenho “rectângulos de memória”, tenho o meu nome em projectos profissionais e ouço-o pronunciado nos lábios daquelas pessoas realmente importantes.
Só não tenho a lógica verbal para expressar este “conto de fadas” de outra forma.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

I found some kind of Fairytale

Porque apesar de ser tarde na noite, apetece-me correr pela Rua Augusta e sentir-me apaixonada, nem que seja "só" pela vida...

domingo, janeiro 13, 2008

Lou Rhodes: the rain

eu quero ir, querooooo! Vá lá!

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Amy

terça-feira, janeiro 01, 2008


Um brinde: a um ano necessariamente novo.

Já falei disto várias vezes, a transição, o ponto de viragem que nos permite mudar-nos a nós e à nossa vida, pode acontecer quando o entendermos. Este ano, por questões pragmáticas e de preparação para a coisa, escolhi o “Revelhão”. Pinhões em vez de passas, espumante de frutos silvestres em vez do tradicional champanhe, vermelho e preto em vez de azul.
Este será um ano necessariamente diferente a achei por bem preparar-me para ele. Quanto mais não seja, porque o mundo do trabalho vem aí! Para este ano quero, preciso de locus de controlo o mais interno possível, de Ema de vez em quando, Shutterbabe e/ou Wayfarer na maior parte do tempo, nunca esquecendo a querida Ema… Para isso basta um esforço constante para meter a Ashimbar nos confins do passado. As acções, por mais simples, foram escolhidas por forma a me lembrar disso e até me chegou um grito enorme aos tímpanos logo depois das 12 (saudades da tua originalidade imprevista!).

A Resolução está escrita, as marcas foram deixadas…. Estarei aqui em 2009 para dizer que consegui e valeu a pena?

primeira música de 2008...

"I wish that I could sit in the sun"

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Crashing Down

These back steps are steeper to the ground
The brightest stars are falling down
I’m walking the edge, walking the tightest rope
We can be frank, reality rips on through, rolling like a hurricane
I’m over the bridge and under the rain
If everything’s falling, if everything’s changed
If I’m in the open, if I’m in the way
What am I doing here
If you’re not with me
What have I got to live for, if it’s just my own dream....

Mat Kearney

segunda-feira, dezembro 10, 2007

- Como estás tu?

- No meio! Precisamente a meio de tudo quando quero ter, fazer ou ser na vida. Hoje, nem as pequenas vitórias quotidianas me dão alento. Nada pode ser atingido já! Qualquer coisa que possa começar, com mais ou menos entusiasmo, só terá o seu culminar daqui a muito, muito tempo, com sorte e se o enfado não levar a melhor.

Posso continuar a ler artigos para tese, a reunir os artigos para o “artigo”, posso escrever mais uma carta, posso ir pensando nos objectivos/estatutos/formalizações de um dos muitos projectos profissionais que não passam disso, posso ir tirando mais umas fotos com todas as limitações materiais associadas, posso praticamente começar e continuar muitas coisas. Mas isso deixa-me exactamente no mesmo lugar: a meio. Eu sou um projecto de tudo e mais alguma coisa. E um projecto por si só não chega a lado nenhum! (E só na ultima frase já cometi dois erros de comunicação! Bolas, nem isso consigo evitar)

Para quando a concretização? Isto do hábito e da estabilidade não são muito o meu género! Nem sequer é saudável! Venha o elemento estranho ao sistema que ajuda a provocar a crise e cria mudança e equilibração! (Bolas que até o locus de controlo se externalizou) Então, o que posso eu fazer quando a isto? Continuar nos meus passinhos pequeninos esperando que os factores se conjuguem? Apanhar uma intoxicação alcoólica? Ah, sounds great! Parece que a Ema vai voltar, a excepção, mais ou menos induzida, à mediania! I can’t wait to feel free!

quarta-feira, novembro 28, 2007

Eu: (explico sucintamente a resolução da coisa)
Ele: Ah, ok! Então está tudo!
Trrriiimmm
Ele: espera só um bocadinho… (atende) sim, sim, já falei disso com a Dra. Ana, Sim, Sim, já sei, Sim… Sim. Está combinado. Sim, Sim, Siiiim! [será que me falta algum anuir em tom de frete?]
Eu: Então, elas estavam a complicar?
Ele: Mulheres, sabes como é!

I Love it! Nós os homens somos mesmo pragmáticos! :P



PS: É verdade, homem mas não completo… Falhei o jogo de hoje do Benfica (será?)

quinta-feira, novembro 22, 2007

O "Segredo" Revelado

Fizeram um pedido ao nosso centro de documentação, um livro de auto-ajuda, “que fale daquelas coisas que nós podemos atrair”… Dado o contexto achei importante clarificar que esse não é o âmbito da psicologia, comentário, ao que parece, surpreendente e chocante. Chego ainda a acreditar que a fnac tem uma parte na culpa, ao incluir na secção das ciências sociais e humanas, livros com flores coloridas com títulos tão apelativos como: “Seja feliz em 10 lições!”. Mencionámos superficialmente títulos com a palavra Optimismo mas devem ter soado a “demasiado trabalho!”. Anyway, também não é na nossa responsabilidade fazer aconselhamentos literários.

Durante a caminhada nocturna que me levava, apressada, para os transportes públicos que não esperam pelos lentos, recuperei o tema da necessidade de mistificar. Ora, toda esta nova vaga de “atracções” que se ouvem por aí, são actualmente da responsabilidade da Rhonda Byrne e do seu “Segredo”, que afinal não é mais do que um plágio de tudo o que já se disse na Profecia Celestina (James Redfield), livros sobre Reiki e outras abordagens milenares do mundo em termos de Energia universal da Vida. Até já Richard Bach o tinha feito no Ilusões ao “magnetizar” uma pena azul!

Depois da descodificação do Código da Vinci, achei que não podia adiar mais A Desmistificação do Segredo!

As pessoas precisam de envolver sempre em algo de muito místico, oculto, divino, superior, aquilo que fazem, sozinhas, através de mecanismos muito mais simples!! O problema aqui é que isto é muito difícil de aceitar… Acreditar que uma coisa depende de mim pesa muito mais na responsabilidade, na consciência, nas consequências, do que a crença de que há alguém, alguma coisa, a trabalhar por mim. Se não conseguir então a culpa não foi minha, não era eu que estava a mudar…. Segundo o “Segredo” só temos que acreditar, pensar várias vezes no resultado, e não precisamos de fazer absolutamente mais nada! Parece fácil! Se calhar até é só isso que temos que fazer, outras vezes há mais alguma acção da nossa parte…. Vejamos…

O Segredo falada de casos de recuperação de “doenças crónicas, depressões”, traumas físicos, doenças cancerígenas, etc… Ora, nem sei de deva explicar como OBVIAMENTE uma pessoa só pode recuperar de uma depressão se acreditar que pode viver feliz! O grande problema da depressão são os pensamentos cada vez mais negativos! Parece-me lógica esta mudança! Aliás, o que faço neste momento em terapia é exactamente “positivizar” as pessoas, salientar aquilo que já fazem bem, aquilo que já têm de bom enquanto pessoas e o que podem ainda melhorar! Claro, claro, que os terapeutas também são uma espécie de divindades mágicas para algumas pessoas… Mas no fundo, é tão simples quanto “focar no positivo”. Quanto às outras doenças, também é sabido que o optimismo é uma grande arma na recuperação, até no cancro, caso em que se costuma dizer “é metade do tratamento”! “Segredo”? Não estou a ver nenhum!

O livro dá ainda como adquiridas algumas instâncias que os investigadores ainda não confirmaram ter existido como os Jardins Suspensos da Babilónia… No entanto, isso não tem qualquer gravidade se tivermos em conta o numero de “cientificamente comprovado” que mostra logo que todos estes pseudo-cientistas não passam disso mesmo e que a autora não sabe sequer a definição de “ciência”… É que esta instituição deixava de o ser se houvesse comprovações!!! A primeira característica da ciência é estar em constante actualização!! Das primeiras cosias que se aprendem em cadeiras de epistemologia é que é estritamente proibido usar a palavra “provado” ou “comprovado”! Diz-se “evidências” ou “os resultados apontam para”… Há sempre uma janela aberta para a influência de outras variáveis, outros contextos, outros estudos que podem vir a mostrar coisas diferentes, ou mesmo o contrário. Em ciência não há verdades absolutas! Essas deixamo-las para as pessoas que já não tencionam evoluir mais e que gostam de viver seguramente enganadas! “Em ciência a verdade é provisória e a certeza probabilística!” (Duarte, desde sempre) (Ah, nota mental, quando se apresentam estudos, em “Ciência”, inclui-se a referência, senão é considerado plágio, além de que ataca uma característica funcamental desta coisa que apregoam constar no vosso livro e que é o facto de ser “verosímil e verificável”! Ou seja, a comunidade tem o DEVER de conhecer e ler o estudo referenciado, replicá-lo e chegar aos mesmos resultados, senão, estamos perante fraude, o que depois do plágio, é algo de gravemente punível!)

Não resisto em apresentar a grande “prova” destes senhores… Segundo Bob Proctor “o universo inteiro emergiu do pensamento!!!” UUUHH E eu pergunto-me “pensamento de QUEM se ainda não havia universo??” hummm, amigos, acho que faltam aqui alguns argumentos pelo meio….
O livro tem ainda uma boa lição sobre como positivar… realmente pensar nas coisas más leva a ver-nos coisas más e pensar no que não queremos não conduz a um objectivo efectivamente…. “Segredo”? Onde, onde? É preciso de falar de “atracção” e electrões pelo meio? Parece-me que não!

Sobre a atracção, gostava ainda de dar um exemplo do “nosso” livro:
É por isso que as pessoas entram numa espiral quando entalam o dedo do pé ao sair da cama. O dia inteiro corre da mesma maneira.” O célebre “isto hoje não vai correr bem!!”
Por outro lado:
“Se começar com um dia bom e estiver num estado de espírito particularmente feliz e se não deixar que nada altere o seu humor, continuará a atrair, pela lei da atracção, mais situações e pessoas que sustentam esse sentimento feliz!”
Isto em ciência (relembro, aquilo que onde livro apregoa basear-se) chama-se expectativa ou Self-fulfilling Prophecies (ver por exemplo o trabalho de Robert K. Menton). Estudos muito simples, sobre as expectativas de professores em relação aos alunos e respectivos resultados, mostram que aquilo que esperam influência a forma como investem na sala de aula (com um simples, questionar, chamar ao quadro, castigar, elogiar) e, consequentemente os resultados. Um “bom aluno” será sempre um bom aluno enquanto um professor acreditar que sim, e o contrário (e mais frequente) acontece da mesma forma. E aqui chegamos ao ponto fulcral da questão… Quando acreditam que é possível, as pessoas MOVEM ESFORÇOS para esse objectivo, ainda que muitas vezes não se dêem conta… Perceber que o esforço depende delas é desmotivante quando devia ser visto como um bilhete rumo à liberdade, ao não precisar de entidades superiores ou instâncias energéticas para alcançar objectivos… No entanto, dada a procura sequisosa do ser humano por tudo quanto é místico, as pessoas acabam sempre por incluir mediadores fantasiados só pelo medo de admitir que têm a responsabilidade de tomar as rédeas das suas vidas… Este é o grande Segredo, a verdade que a humanidade anda a camuflar há milénios ao refugiar-se em religiões e divindades… O Ser humano tem poder e ter medo de o usar deliberadamente!

É claro que este meu texto dá mais trabalho a ler do que um livro cheio de tópicos e bonequinhos. Claro que as minhas assustadoras palavras, são-no, porque devolvem ao homem o comando das suas vidas e da sua Felicidade… Claro que é mais fácil acreditar que há uma “lei de atracção” a trabalhar POR nós…

Só gostava de poder escrever isto com mais evidências Científicas e com mais calma e ponderação… Da próxima vez que olharem para o "Segredo" (que não o-é) e para aquilo que “ele fez” por vós, SAIBAM conscientemente que foram VOCÊS que engrenaram essa mudança, com as vossas próprias forças, recursos, com a ajuda de pessoas significativas, com as vossas expectativas como motor! Saibam que a única coisa que actuou sobre vós foi talvez uma self-fulfilling prophecie que Vocês activaram ao acreditar ser possível…
Acrditem primeiro em vós....

sexta-feira, novembro 16, 2007

Today's lesson from Grey:

"No matter how badly a thing is hurting us,
Sometimes, letting it go hurts even more."

segunda-feira, novembro 12, 2007

Apetece-me fotografar AGORA!

domingo, novembro 11, 2007

Não sei.
Falta-me um sentido, um tacto
para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
é tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.
(...)

Álvaro de Campos

sábado, novembro 10, 2007

Tudo passa. Demasiado rápido, demasiado intenso. Mas passa. Uma pessoa é muito interessante durante dez minutos e logo passo à frente. Grito, pulo e falo, vezes sem conta, por motivos diferentes. Olho, reparo, delicio-me, sonho, construo um projecto futuro, tudo em poucos minutos, para dar lugar a outra coisa. Sinto-me imensamente feliz, tenho uma raiva brutal, choro compulsivamente, quase em simultâneo. O que o mês passado era claro, hoje é negro. O que ontem era ordem, hoje é caos. O que há cinco minutos fazia todo o sentido agora é um enorme disparate.

O que fazer quando já nada é coerente num dado momento? Quando não se consegue levar uma decisão até ao fim?

sábado, outubro 27, 2007

Por vezes, aquelas pessoas que te impelem a lutar por aquilo que queres, são as mesmas que te mostram, a cada gesto, que não interessa o quanto te esforças, porque não vais conseguir alcançar o que para ti é mais verdadeiro e mais te chama na vida.

domingo, outubro 21, 2007


Não é que isto da vida esteja propriamente a correr bem, mas estou Feliz!
Já consegui resolver questões pendentes, estou a empurrar pessoas para que agarrem as rédeas das suas vidas e com resultados, estou a dar o meu melhor naquilo que gosto, tenho conseguido fotografar, borga já não é uma raridade tão grande e consigo dar atenção a mais pessoas do que o habitual! Weeeeeeee!
Claro que esta hiper-estimulação me está a tirar o sono, mas ando contente, who cares!? :P
Happyyyyyyy!!
Why? We exist!!! What else could I ask for?

domingo, outubro 14, 2007

Actualizamo-nos de cada vez que conhecemos alguém.

Numa conversa demorada, em pequenos momentos que juntos se tornam grandes, na troca de acções que caracteriza o processo de Conhecer, articulamo-nos com uma forma diferente de ser, protagonizada pelo outro e, actualizamo-nos.
A pessoa que temos à frente apresenta-nos um desafio a cada gesto, a casa ideal, a cada olhar. Somos obrigados a concordar, discordar, compactuar, sorrir de volta, a responder com o nosso comportamento, como a nossa pessoa, ao que o outro nos apresenta. Facilmente se trava uma dança de passos e saberes que é única porque só é possível naquela díade. Aceitar o desafio de conhecer alguém enriquece porque nos faz ser mais arrojados ou mais comedidos, mais filosóficos ou mais pragmáticos. Em termos de conteúdo o upgrade nota-se ainda mais! Não posso deixar de aprender com alguém que me fala de cinema, de poesia, de mecânica, de tampas de esgoto, de facas de cozinha, de rolhas de cortiça, nem posso deixar de investir nessa aprendizagem se quiser continuar a comunicar com estes “especialistas”.
Se uma pessoa me faz correr pela Baixa de chapéu de chuva em riste para a molhar e se me faz jogar às escondidas no metro para fugir da mesma ameaça, então estou a redescobrir-me, a actualizar-me nessa relação.

E assim, mais uma vez, fica a frase do Professor Pina Prata, que (também ela) se vai actualizando à medida que consigo ir sendo, cada vez mais….

“Vai-se sendo pessoa num contexto de relações.”

domingo, outubro 07, 2007

“Era já o cair da noite de um dia de Novembro, numa pequena vila, situada no sopé de uma montanha. Um velho e bom homem, estimado por todos os habitantes da vila, vinha andando por um escuro caminho que ligava a igreja a sua casa.
Quando chegou à porta retirou o casaco e dobrou-o. De repente, e de forma inesperada, prostrou-se de joelhos e começou a fazer, no solo empoeirado, movimentos em semi-circulo com a palma da mão direita. Passaram-se alguns minutos sem que ninguém aparecesse. De repente, surgiu um dos habitantes da aldeia que vivia do outro lado da rua. Espantado de ver o homem naqueles preparos, encaminhou-se rapidamente na sua direcção.
- João! – chamou o vizinho, perguntando: - Passa-se alguma coisa?
O bom homem olhou para cima surpreendido e respondeu: - Meu filho, penso que perdi as minhas chaves.
- Perdeu as suas chaves? Não se preocupe que nós vamos ajudá-lo a encontrá-las – Disse o vizinho.
Não havia passado muito tempo e quase toda a aldeia estava de gatas tentando encontrar as chaves perdidas, percorrendo todos os centímetros de chão e arbustos que rodeavam a casa do João.
- João – perguntou o outro vizinho – tem a certeza que perdeu as chaves?
- Claro, meu filho, tenho a certeza – respondeu o homem.
- Bom – disse o vizinho. – E tem a certeza de que as perdeu aqui?
O homem ficou em silêncio, olhando para o caminho. Em seguida disse:
- Não, eu não as perdi aqui – e apontando para a vereda escura que levava á igreja, disse: - Eu perdia-as ali.
- Perdeu-as lá atrás no caminho? – perguntou um vizinho surpreendido. – Então desculpe-me João, mas porque procura as chaves aqui.
O João levantou-se, sorriu pacientemente, e apontando para a luz da porta da sua casa disse:
- Porque aqui há mais luz, meu filho!”


(In Educar para o Optimismo, Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro)

Quantas e quantas vezes procuramos respostas onde sabemos que elas não estão?
Quantas e quantas vezes permanecemos sem chaves numa luta perdida, apenas por medo de abandonar o conhecido, o confortável, o “iluminado”?
Quantas vezes nos permitimos viver pela metade apenas com medo de avançar para o desconhecido?

sexta-feira, outubro 05, 2007

A minha vida onírica trai-me a cada noite que passa. O corre-corre diário faz-me parecer distante do processamento amigdalar (*) chegando ao ponto de afirmar a cicatrização de feridas abertas. Mas se o abismo da noite consegue trazer consigo o exacerbamento das coisas, o sono de cansaço não dão muito espaço para que tal aconteça e é nos sonhos que tudo se revive. Assim, todos os dias há um acordar com as pessoas e os momentos que se guardam em gavetas à luz do dia. Sequências de argumentos cada vez mais elaborados que remetem para histórias inacabadas e me acordam com esperança ou angustia.

Abro a janela e esqueço mais uma vez.

“Há uma lei da natureza, mística e maravilhosa, que diz que três das coisas pelas quais mais ansiamos na vida – felicidade, liberdade e paz de espírito – são alcançadas quando as damos a outra pessoa.”

(Autor Desconhecido, Infelizmente)

(*) Referência à Amígdala, essa sim o centro das emoções e não (como insistem em dizer as pessoas ditas “apaixonadas” que ainda por cima acham que os outros são incapazes de sentir o """""mesmo"""") o coração, “mero” órgão bombeador de sangue.

domingo, setembro 30, 2007


Usas o palco como extensão de ti. Cantas, gritas, palmilhas aquele chão de madeira, encarnando alguém que não és tu mas que vem de ti, alguém que “ajudas a ser”. E quando aquele quadrado mágico de chão não chega, vives a vida real como uma peça de teatro, exacerbando os sentimentos, rebuscando os gestos, tocando naqueles que têm a sorte de ver passar nas suas vidas. Sem medo de rir, chorar ou defender com convicção tudo o que pensas, interpretas o papel daquilo que és, uma personagem rica e complexa, no palco da vida. Levas em ti o sonho e aqueles que contigo o partilharam. Guardas as memórias de papel e os momentos vividos no passado fantasiando com a possibilidade de te realizares no futuro.

Naquela linha ténue entre o teu palco e o meu cenário, partilhamos artes, palavras e memórias. Levamos connosco o sonho e lamentamos os que não o têm. Fazes-me rir e pões-me a chorar, com meras conversas ou com abraços apertados que do simples trazem o que de mais profundo há em nós.

És grande e sabes que não te queres habituar, embora a vida te obrigue a isso. Reinventas-te nos teus numerosos papéis e és cada vez mais.

Sê o que quiseres….

Até que um dia o pano caia.

sexta-feira, setembro 28, 2007

O senhor Pedro, o mesmo senhor Pedro de todos os dias, que todos os dias pergunta "o que é que vai ser menina?" e que todos os dias empilha cafés em cima do balcão, esse senhor Pedro colocou, no pires da chávena onde depositei esperanças de um bom dia, um pacote de açúcar. Esse pedaço amarelo e castanho de papel dizia:

"Um dia ponho a mochila às costas e vou conhecer o mundo. Hoje é o dia."

O dito pacote continua colado no meu painel, e olho para eles todos os dias, esperando pelo momento de o tornar real.

keep on pretending...



quarta-feira, setembro 26, 2007

Hoje, caminhando através dos automóveis estacionados, senti uma presença que caminhava ao meu lado. A imagem, espelhada nas pinturas metalizadas com reflexos de fim de tarde, mostrava alguém que não reconhecia e no entanto, era eu o único ser naquele local. Demorei a perceber que era apenas "eu".
Estranho não me identificar com a minha própria figura.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Se tivesse trazido máquina tu sentavas-te naquele banco de frente para o relvado que a luz rasante do fim do dia ilumina e onde os pombos e os pardais se passeiam. Os dourados contaminariam a cena oferecendo reflexos brilhantes ao teu cabelo, despenteado pela brisa suave e corte recente. De pés cruzados, apoiavas as mãos no cimento aquecido pelo sol que recebias gratamente. Depois de um qualquer comentário estereotipado sobre classes profissionais, atiravas a cabeça para trás numa gargalhada e eu congelaria o momento com as minhas lentes. Mas não levei a câmara… e terei que guardar assim este bocadinho de dia.

domingo, setembro 23, 2007

Pretending…
A procura de uma descrição, análise ou explicação para os tempos presentes, toma hoje a forma de uma palavra… Pretending… Vagueio em indefinições fingindo saber o que estou a fazer, fingindo ter a dignidade quando há muito ela me abandonou, fingindo ser forte quando me sinto a derreter por dentro.

Não posso simplesmente sentar-me à mesa com as pessoas e despejar os meus pensamentos incongruentes, dispersos, contaminados. Preciso de me encontrar no caos, de me preparar para abdicar se tiver que ser, preciso de dar-me a um rumo.

Enquanto isso não acontece, vou continuando a passear-me na Baixa da vida, por entre edifícios e multidões, de cabeça erguida e passos firmes, pretending


sexta-feira, setembro 21, 2007

Tatuagens

Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão

Mafalda Veiga

E hoje podia ser "um pouco de céu" mas o que para sempre ficará tatuado em mim prevalece e não o consigo apagar.

segunda-feira, setembro 17, 2007

- gosto desta conversa entre parênteses :P
- a minha vida é cheia de parênteses



Pois… Quando o espaço-tempo a que chamamos “realidade” não nos permite fazer tudo o que queremos simultaneamente, nós abrimos parênteses! É que uma vez colocados, não afectam a estrutura sintáctica do parágrafo e portanto, são clandestinos, ilegais, reprováveis até.
Este carácter paralelo e não-oficial ajuda-me a ser mais um bocadinho daquilo que quero ser, salvo, claro quando se revestem de futilidade e não têm qualquer outro fruto que não o prazer do imediato.
Entre () vou sendo cada vez mais. Entre () tudo o que não é contemplado pelas possibilidades politicamente correctas, passa incólume. Os () ampliam possibilidades, por vezes incompatíveis, na minha vida. Os () normalmente não pedem satisfações.


Porto inseguro

A liberdade bate à minha porta,
tão carente de mim, pedindo abrigo.
Quero ampará-la e penso que consigo
detê-la, mas seria tê-la morta.

Livre para pairar num céu sem peias,
na solidão de um vôo sem destino,
por que perder, nos olhos de águia, o tino,
vindo a quem se agrilhoa sem cadeias?

Deusa das asas! Seu vagar escapa
a meus sentidos, seu desejo alcança
tudo que a mim se esconde atrás da capa.

Vá embora daqui! Siga seu rumo!
Sou prisioneiro, um órfão da esperança
e arrasto um vôo cego em chão sem prumo.

Luís António Cajazeira Ramos



baaaaaah :S

sábado, setembro 15, 2007

Toda a dor em mim me faz querer esquecer quem sou, perdida em futilidades, dando-me ao imediato, a sofocar à superficie.
O que fazer quando até a boémia nos vem pedir satisfações?


Os meus olhos perdem-se nos teus
Um só momento e fico presa a ti
A tua pele conta uma história que não é a minha
Mas a tua química pertence-me
As tuas mãos no meu corpo
E a minha boca na tua
O teu sabor é o meu
A tua língua tem o meu gosto
A minha boca sabe à tua boca.

O teu corpo conta a minha história
As rugas dos teus olhos não me denunciam
As minhas pertencem-te…
Não são já mãos que acariciam
São corpos que se fundem
A mesma química
Os mesmos iões
A minha pele na tua
E sinto-te como meu
A tua língua tem o meu gosto
A tua boca sabe à minha boca.
Vana



Colo os meus olhos na tua alma.
Sei que a nobreza que te cobre a pele
Tapa apenas a pessoa em que te queres tornar.

Colas os teus olhos na minha alma.
Sei que a quietude que te caracteriza
Esconde só a liberdade que tanto desejas.

De almas coladas dançamos já sem ouvir a música,
Na sintonia que cronos nos ofereceu
E que agarrámos com fervor.
As nossas mãos tocam-se e abalamos o mundo
Numa tontura que me faz querer fechar os olhos,
Só para não me perder em cores desnecessárias,
Mas o teu olhar sempre vem em busca do meu
Para não o poder de vista.
A multidão aplaude e acorda a nossa dança.

Largamos os nossos olhos
E apertamos com força as mãos,
O meu corpo pede o teu
E a distância não nos dissuade.
Nesse momento a minha alma ainda sabe
Que qualquer lugar será nosso
Se o este olhar nunca se perder.
Wayfarer

sexta-feira, setembro 14, 2007

Fogo e Noite

Saudades de ver o barbas a partir o palco e a saltar no meio do público... Volteeemm!!

Será que coloquei algum catrapázio na porta a dizer em letras gordas e psicadélicas: “Entrem, estejam à vontade!”?! Então porque é que de repente têm entrado tantas pessoas na minha vida, mesmo aquelas que já tinha apagado da lista “pessoas a conhecer”!! Se há coisa que deve ser doseada são as pessoas! Cada uma pode ser importante ou indiferente consoante o contexto em que aparece, já para não falar da energia e tempo necessários ao conhecimento de alguém… Assim não dá! :S

A liberdade de fazer tudo o que me apetece é das coisas mais importantes na minha vida e no entanto, deparo-me com uma catadupa de consequências que não sei bem como enfrentar… Basicamente, há demasiada informação por processar e quando isso acontece, fugir é o único escape… Ser assertiva, claro, fria, por vezes, mas depois pisgar-me a correr com medo de sufocar com tanta informação e com a possibilidade de ficar presa em algo que me vai fazer abdicar de outras pessoas…

Perceber o que estou a sentir seria um bom trabalho, mas as sensações misturam-se e já não as sei catalogar. Uma coisa é certa, sei aquilo que consigo ser quando estou completa. Poucos momentos roubados ao tempo chegaram para tal. E neste momento não é isso que eu sinto. E neste momento, qualquer coisa mais pequena não chega. Simplesmente não é suficiente.
Saber que as minhas acções têm efeitos nos outros é um peso terrível….

“És eternamente responsável por aquilo que cativas!” já dizia o Saint-Exupèry…
Já me bastam as novas responsabilidades (oficiais) pelas vidas dos outros. Vou fazer greve de cativações… Tenho uma fuga à vista, como nos bons velhos tempos… E de novo a sensação de não levar nada até ao fim. É o que acontece quando as fasquias sobem… Mas não trocava aquela sensação de SABER, aquele click intergaláctico, aquele mundo surreal, por nenhuma certeza-cega neste momento. (Ai Lud, tinhas uma metáfora-que-não-é-metáfora-porque-é-mesmo-físico tão boa para isto!)

Devíamos ser como no Um e poder ter vidas paralelas para ver onde nos levava cada uma das nossas escolhas… O que poderei estar a perder?

Bem, a liberdade pertence-me, acho que preciso de tempo e de iluminação para decidir o que fazer… Desta vez a vodka seria, decididamente, uma má solução! (oh não, já nem vodka me salva!!)

Baaah, não tenho tempo para isto! E porque é que as pessoas precisam de tantas explicações anyway?! E porque é que continuo a querer ser responsável quando acho que sou livre? Alguém aqui anda muito equivocada... Serei eu? :S

quinta-feira, setembro 13, 2007

Por que desertos andas tu?
Por mais que a preocupação e a distância se esforcem, sinto-te aqui. Os lugares onde vou, as conversas das pessoas sentadas à minha frente no comboio, as frases que leio, as músicas que ouço, tudo o que me tem feito sorrir e desesperar, estão cheios de lembranças de ti. Deixas-te o quotidiano, mas eu vivo-o por ti, ansiando pelas histórias que vais trazer. O que te fez sentir a cidade azul e branca? E a areia cor de açafrão? Sempre conseguiste ir à cascata? Os “buraquinhos” têm tintas malcheirosas ou é apenas mito? Tenho tanto para ouvir e tanto para te contar que nos arriscamos a outra conversa de surdos como no dia das caixas, antes de partires. Mas não quero perder nem um segundo dos teus relatos! Espero que te encontres ao encontrares mais um “bocadinho do mundo”.

Aqui o tempo não parou e é tão mais fácil quando posso ouvir a tua voz.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Rir ou Chorar, eis a questão! Bem-vindos à ambiguidade da minha vida!
O estágio já começou, meio dissimulado, meio formalizado, e cá estou eu espantada com a catadupa de desafios com que me deparo. “Mas eu não me sinto preparada!!” “Nem nunca se vai sentir”. Talvez. A verdade é que consigo ser eu em cada uma das pequeninas coisas que faço. Sinto que está ali alguém que confia e acredita e que deixa voar…. Era disso que estava a precisar.
E hoje, ironia do destino, recebemos o primeiro caso: tentativa de suicídio. Afinal não fugi assim tanto da minha paixão pseudo-intelectual. O medo está cá, mas a curiosidade (e a cuidadosidade) hão-de superá-lo.

quinta-feira, setembro 06, 2007









Conclusão da semana: os fotógrafos não podem ter filhos.
Nem sequer é bem não poder, é mesmo não dar jeito nenhum! A possibilidade existe e é real, mas se houver princípios de educação e acompanhamento do desenvolvimento dos catraios que impeçam o depósito, sistemático e prolongado, em casa de avós, tios, padrinhos, amas, colégios internos, torna-se praticamente impossível. Já nem falando das saídas do país que a coisa exige e o bichinho pede, qual alma errante em busca do aperfeiçoamento do olhar.
A experiência da última semana diz-me que biberões, fraldas, sonos, papas, choros e fichas de electricidade são altamente incompatíveis deambulações fotográficas, saídas em hora mágica e deslocações a lugares menos seguros. Aqui a “possibilidade” entra na eventualidade de se encontrar um cônjuge caseirinho e pouco fotográfico (que seria uma grande seca), o que no meu caso seria complicado, já que ele não teria os atributos maternais que alimentam os piquenos.
Eu gosto de ser prima, é verdade! É bom poder brincar com as miúdas e agarrar nelas para as devolver aos pais quando estão a chorar. Devo dizer também que dão óptimos modelos! No entanto, na última semana, abandonei as minhas funções em prol da fotografia e quase não dei conta. É uma incompatibilidade de prioridades muito grande. E isto lembra-me uma cena do Before Sunset (como não podia deixar de ser) em que a Celine diz que o seu namorado fotojornalista (que é um bacano porque nunca está em casa) fotografa pessoas aflitas antes de as ajudar. E eu compreendo isso. A busca do olhar é tão forte que acaba por nos separar de tudo o resto. A necessidade de captar a essência do momento implica fazê-lo durar, pelo menos enquanto não dermos o nosso melhor click. Observadores absorventes com apenas um olhar presente no mundo. Tudo o resto deixa de existir. O “momento decisivo” é a prioridade e a entrega é total.
Esta brilhante conclusão entronca com as dúvidas dos últimos tempos, acerca do será-que-estou-no-curso-certo? Ó dúvida cruel… Oh asas cortadas e futuro incerto…

terça-feira, setembro 04, 2007


Feliz Aniversário aos 2!
=)




Familias

É bom irmos sabendo, de quando em quando, que certas pessoas e famílias, que passaram na nossa vida, continuam a lutar pelos seus sonhos. O tempo e a distância podem tentar afastar-nos mas momentos como estes confirmam que valeu a pena conhecer tão interessantes pessoas.

keep on dreaming!

quinta-feira, agosto 23, 2007

A crise dos 30, aos 22….

Tem vindo a ser um tema recorrente. Sinto que já não tenho uma vida inteira pela frente. Hoje, num daqueles acasos bons, encontro alguém que partilha o mesmo estado de espírito. “Os de 80 já são todos maiores de idade”. “Os miúdos não sabem o que são carrinhos de rolamentos nem walkman’s!”. Por outro lado sabem muito bem o que é uma playstation e dominam mais a informática do que os próprios pais. Não que ache isso mau, é apenas outra forma de aprender o mundo, ainda que muitas vezes seja mais solitária do que jogar às escondidas no jardim ou futebol no campo improvisado do nosso bairro. Nós também não brincámos ao peão. É apenas uma mudança de formato. Mas faz-nos sentir velhos, da “old school” como dizias.

Vemos os miúdos, de 13, 14 anos, em grandes concertos e férias sozinhos, coisa inimaginável no nosso tempo. Mas se por um lado se parecem mais adultos, pelas permissões, roupas, cigarros no dedo e copos de cerveja na mão, por outro lado talvez não tenham brincado o suficiente, nem aprendido o necessário sobre a vida, já que ainda estão em maturação e daí resultam os comportamentos irresponsáveis que quase parecem contraditórios com a liberdade que possuem.

Já passámos essa fase.

Alguns de nós deixaram a escola e estão agora casados e com filhos. Outros para lá caminham, sem nunca terem saído muito do mesmo meio e dos velhos hábitos. Poucos de nós seguiram a vida académica. E até essa está a acabar. Estamos a correr para o mundo do trabalho sem ter tido o tempo suficiente para viver os tempos do traje negro, deixamos de ter os horários flexíveis que nos permitiam fugir da rotina, deixamos de ver aquelas mesmas pessoas no bar, todos os dias… Pode parecer cliché mas é verdade, o tempo não volta atrás. E é isso que neste momento me causa uma espécie de nostalgia por tudo o que foi e uma revolta por tudo o que podia ter sido. Continuo a achar que não vivi o suficiente e já levo algum atraso nas andanças da vida. Olho para a frente e vejo um nine-to-five job (na melhor das hipóteses), contas para pagar e pessoas para cuidar.

Tens razão querido Diogo, estes podem ser os melhores tempos da nossa vida e podemos não conseguir viver tudo o que queremos agora. E sim, as pessoas têm muito medo de parecer crianças, mas é tão bom ir ao toys’r’us e brincar com tudo aquilo que não tínhamos na nossa infância!

Pareço uma velha a falar, eu sei e ainda não cheguei aos 30! Mas sinto, cada vez mais, o tempo escorrer-me através dos dedos sem conseguir fazer tudo o que quero com ele.

Serei talvez uma day dreamer com mais sonhos do que vidas.

quarta-feira, agosto 22, 2007

domingo, agosto 19, 2007

Mais uma vez, deparo-me brutalmente com a efemeridade da vida… Hoje foi dia de visitar aqueles que já ouviram as fatais palavras de um médico: “Não há nada a fazer…”
Resignados nos seus últimos dias, recebem visitas que não podem dizer “as melhoras” ou “vai tudo correr bem!”. Encarno, de novo, o Homem Absurdo de Camus ou Raúl Brandão… O ridículo da morte…
Pensamentos que se cruzam com o meu caminho mental dos últimos dias…
Estas foram pessoas de luta e entrega… Viveram (desperdiçaram?) as suas vidas em nome de um ideal de sacrifício e privação, que os levaria um dia ao “Céu”. Dizem agora que isto é apenas uma passagem… De que vale existir durante 60, 70, 80 anos a esperar por algo que não se sabe se vem? Será que valeu a pena?

Toda a gente fala no céu, mas quantos passaram no mundo sem ter olhado o céu na sua profunda, na sua temerosa realidade? O nome basta-nos para lidar com ele. Nenhum de nós repara no que está por detrás de cada sílaba: afundamos as almas em restos, em palavras, em cinzas.” (pp. 18)

A morte é absurda, mas mais ainda é existir e penar, no único minuto que temos entre o nada e o nada. A haver um Céu, seriam dele merecedores os conformistas, apáticos em esperas vãs, numa vida de causalidades atribuídas a entidades exteriores? A haver um Céu, quais seriam os critérios? Inertes ou lutadores?

“Que outra coisa fizeste na vida senão esperar a morte?” (pp.41)

“Então para que nasci? Para ver isto e nunca mais ver isto? Para adivinhar um sonho maior e nunca mais sonhar? Para pressentir o mistério e não desvendar o mistério?” (pp.41)

Antes, estas e outras palavras derrotistas e absurdas, retiradas do meu fiel Húmus, livro de cabeceira, ao qual faltam ler 10 páginas desde há 3, 4 anos, faziam-me todo o sentido. Com o tempo fui aprendendo a roubar vida a esta existência efémera e hoje não me consigo ver de outra forma. Agora eu deixei de ser Raúl Brandão para ser o Gabiru e acreditar no sonho.

Ultimamente tenho pensado (é mais um “sonhar acordado” do que outra coisa) na minha vida daqui a um ano. Emprego, independência financeira, finalmente um substrato para as minhas viagens, para a fotografia, para tudo o que hoje não posso fazer, apesar de até ter tempo. Yaris passaria a ser meu e não teria tantas limitações espaciais. Era mais uma vez a estrada a chamar-me. Mais uma vez a realidade acorda-me para me lembrar das células manhosas, das velhices, das incapacidades e da minha condição de “bombeira” solitária.

Hoje revolto-me por várias razões. Pelo absurdo da morte. Pelo absurdo da morte anunciada para quem não fez outra coisa na vida que não esperar o que vem depois da morte. Pelo absurdo da morte para quem ainda não acabou tudo o que queria fazer nesta vida. Revolto-me mais ainda por não ser a morte a única a levar-nos os sonhos. Não quero ficar parada. Não caibo nestas quatro paredes, preciso de partir… E quando mais me aproximo do cume da montanha das possibilidades, mais me puxam os pés em direcção ao vale.

“É tudo tão fugaz e tão breve”. Ouço e ouço e sei que tenho que arrancar madrugadas e gargalhadas mas não consigo acreditar que nem tudo o que nos ata nos pode prender… Tento, cada vez mais, lutar contra esta efemeridade e não fazer demasiados planos nem embarcar em princípios e promessas vazias. Naqueles breves segundos antes de tudo acabar, quero saber e sentir que agi sempre consoante aquilo que era verdade para mim. Talvez por isso as árvores hoje pareciam mais verdes e o rio mais brilhante. Estou farta de perder tempo em adiamentos!! Estou farta de viver na mediania em todos os sentidos (excepto talvez o intelectual que é onde ainda consigo ir mais longe)! Quero partir!! Será que algum dia terei a possibilidade de fazer aquilo que preciso para ser uma pessoa realizada? (Ou pelo menos mais perto da realização, para não estabelecer objectivos não plausíveis.). Sei o que quero, mas será que a vida sabe? E porque é que não me deixa? Antes contava os anos que me faltavam até angariar os fundos necessários. Agora já nem olhar para o calendário me conforta e sinto-me, cada vez mais, a sufocar.

Acima de tudo, quero viver para evitar a imagem que me ocorre constantemente: velhinha enrrugada, a definhar numa cama, ao lado de alguém que não foi O grande amor, a recordar as viagem que queria ter feito, as pessoas que gostava de ter conhecido, os trabalhos que gostava de ter tido, a pessoa que gostava de ter sido.

será?

quinta-feira, agosto 16, 2007

O calor solitário de uma casa que dorme. Corpos espalhados, quietos, adormecidos, escondidos do sol que já ia alto. Aquela vontade de encontrar um lugar que sinta meu e que não se encontra verdadeiramente sob os efeitos alucinogénios das luzes e sons. Agarro na primeira câmara que encontro na mesa e saio em direcção às falésias. E os meus pés de chinelo movem-se pelos grandes arenitos, através dos arbustos de camarinhas e os sedimentos férreos que se soltavam arriba abaixo. Acompanhada pelos gritos das gaivotas e os sons ténues das ondas que rebentavam nos penhascos, a minha voz tomava forma, sem que a conseguisse parar….
I don't know why
But I cant seem to find the right melody today
I can't make the words fit how I feel
A meio desta caminhada quase mística, apercebo-me mais uma vez de que “tudo é como deve ser”, tal como a Noite na Selva Aguaruna. Tudo está no seu lugar, num equilíbrio imperturbável. Sinto-me mais uma vez lisonjeada por poder assistir ao espectáculo da natureza. À imponência das encostas escarpadas, aos voos acrobáticos das gaivotas barrigudas, às flores selvagens ondulando ao vento.

I woke up from the strangest dream
With a dancing dog and a beauty queen
They said nothing, nada, niente
I'm empty

Viagens no tempo que não consigo evitar e que me fazem sentir um pouco mais a pertença a este mundo. Não assumo todas as culpas por esta fuga. Há algo que me continua a empurrar na busca do meu lugar. Este é mais um que fica tatuado na minha alma desenraizada e meio vazia. “Para onde caminhamos nós? Sempre para casa!” (Novalis).
Apercebo-me que já passou muito tempo e regresso pelo mesmo caminho, embora os passos comecem a apressar-se à medida que vou caminhando. Abro a porta. A casa já tinha acordado e assustam-se os rostos com a minha chegada sem saída anunciada. Segue-se um dia de praia, risotas, parvoíces, álcool, luzes, canções, corpos dançantes e um sono sem sonhos, que me fazem esquecer, momentaneamente, a procura e o vazio.


Voltamos todos à falésia, numa caminhada em que me desprendo das conversas e me perco numa nova contemplação. O regresso à realidade faz-se num lanche entre arbustos e escarpas, em toalhas empoeiradas que servem de cama à sesta vespertina.




Perdidos em olhares, gargalhadas e muita, muita partilha, fugimos do mundo quotidiano das nossas, mais ou menos, preenchidas vidas. E como é bom acordar assim para dias totalmente feitos por nós e para nós, dias que só acabam no dia seguinte, tendo o pôr-do-sol a marcar o meio das horas.



Regresso e parece que o tempo não passou. Tudo aqui está na mesma. As saudades nossas são muitas. Valeu a pena.



(Música by Skye Edwards; último pds, By Ema)