domingo, setembro 30, 2007


Usas o palco como extensão de ti. Cantas, gritas, palmilhas aquele chão de madeira, encarnando alguém que não és tu mas que vem de ti, alguém que “ajudas a ser”. E quando aquele quadrado mágico de chão não chega, vives a vida real como uma peça de teatro, exacerbando os sentimentos, rebuscando os gestos, tocando naqueles que têm a sorte de ver passar nas suas vidas. Sem medo de rir, chorar ou defender com convicção tudo o que pensas, interpretas o papel daquilo que és, uma personagem rica e complexa, no palco da vida. Levas em ti o sonho e aqueles que contigo o partilharam. Guardas as memórias de papel e os momentos vividos no passado fantasiando com a possibilidade de te realizares no futuro.

Naquela linha ténue entre o teu palco e o meu cenário, partilhamos artes, palavras e memórias. Levamos connosco o sonho e lamentamos os que não o têm. Fazes-me rir e pões-me a chorar, com meras conversas ou com abraços apertados que do simples trazem o que de mais profundo há em nós.

És grande e sabes que não te queres habituar, embora a vida te obrigue a isso. Reinventas-te nos teus numerosos papéis e és cada vez mais.

Sê o que quiseres….

Até que um dia o pano caia.

sexta-feira, setembro 28, 2007

O senhor Pedro, o mesmo senhor Pedro de todos os dias, que todos os dias pergunta "o que é que vai ser menina?" e que todos os dias empilha cafés em cima do balcão, esse senhor Pedro colocou, no pires da chávena onde depositei esperanças de um bom dia, um pacote de açúcar. Esse pedaço amarelo e castanho de papel dizia:

"Um dia ponho a mochila às costas e vou conhecer o mundo. Hoje é o dia."

O dito pacote continua colado no meu painel, e olho para eles todos os dias, esperando pelo momento de o tornar real.

keep on pretending...



quarta-feira, setembro 26, 2007

Hoje, caminhando através dos automóveis estacionados, senti uma presença que caminhava ao meu lado. A imagem, espelhada nas pinturas metalizadas com reflexos de fim de tarde, mostrava alguém que não reconhecia e no entanto, era eu o único ser naquele local. Demorei a perceber que era apenas "eu".
Estranho não me identificar com a minha própria figura.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Se tivesse trazido máquina tu sentavas-te naquele banco de frente para o relvado que a luz rasante do fim do dia ilumina e onde os pombos e os pardais se passeiam. Os dourados contaminariam a cena oferecendo reflexos brilhantes ao teu cabelo, despenteado pela brisa suave e corte recente. De pés cruzados, apoiavas as mãos no cimento aquecido pelo sol que recebias gratamente. Depois de um qualquer comentário estereotipado sobre classes profissionais, atiravas a cabeça para trás numa gargalhada e eu congelaria o momento com as minhas lentes. Mas não levei a câmara… e terei que guardar assim este bocadinho de dia.

domingo, setembro 23, 2007

Pretending…
A procura de uma descrição, análise ou explicação para os tempos presentes, toma hoje a forma de uma palavra… Pretending… Vagueio em indefinições fingindo saber o que estou a fazer, fingindo ter a dignidade quando há muito ela me abandonou, fingindo ser forte quando me sinto a derreter por dentro.

Não posso simplesmente sentar-me à mesa com as pessoas e despejar os meus pensamentos incongruentes, dispersos, contaminados. Preciso de me encontrar no caos, de me preparar para abdicar se tiver que ser, preciso de dar-me a um rumo.

Enquanto isso não acontece, vou continuando a passear-me na Baixa da vida, por entre edifícios e multidões, de cabeça erguida e passos firmes, pretending


sexta-feira, setembro 21, 2007

Tatuagens

Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão

Mafalda Veiga

E hoje podia ser "um pouco de céu" mas o que para sempre ficará tatuado em mim prevalece e não o consigo apagar.

segunda-feira, setembro 17, 2007

- gosto desta conversa entre parênteses :P
- a minha vida é cheia de parênteses



Pois… Quando o espaço-tempo a que chamamos “realidade” não nos permite fazer tudo o que queremos simultaneamente, nós abrimos parênteses! É que uma vez colocados, não afectam a estrutura sintáctica do parágrafo e portanto, são clandestinos, ilegais, reprováveis até.
Este carácter paralelo e não-oficial ajuda-me a ser mais um bocadinho daquilo que quero ser, salvo, claro quando se revestem de futilidade e não têm qualquer outro fruto que não o prazer do imediato.
Entre () vou sendo cada vez mais. Entre () tudo o que não é contemplado pelas possibilidades politicamente correctas, passa incólume. Os () ampliam possibilidades, por vezes incompatíveis, na minha vida. Os () normalmente não pedem satisfações.


Porto inseguro

A liberdade bate à minha porta,
tão carente de mim, pedindo abrigo.
Quero ampará-la e penso que consigo
detê-la, mas seria tê-la morta.

Livre para pairar num céu sem peias,
na solidão de um vôo sem destino,
por que perder, nos olhos de águia, o tino,
vindo a quem se agrilhoa sem cadeias?

Deusa das asas! Seu vagar escapa
a meus sentidos, seu desejo alcança
tudo que a mim se esconde atrás da capa.

Vá embora daqui! Siga seu rumo!
Sou prisioneiro, um órfão da esperança
e arrasto um vôo cego em chão sem prumo.

Luís António Cajazeira Ramos



baaaaaah :S

sábado, setembro 15, 2007

Toda a dor em mim me faz querer esquecer quem sou, perdida em futilidades, dando-me ao imediato, a sofocar à superficie.
O que fazer quando até a boémia nos vem pedir satisfações?


Os meus olhos perdem-se nos teus
Um só momento e fico presa a ti
A tua pele conta uma história que não é a minha
Mas a tua química pertence-me
As tuas mãos no meu corpo
E a minha boca na tua
O teu sabor é o meu
A tua língua tem o meu gosto
A minha boca sabe à tua boca.

O teu corpo conta a minha história
As rugas dos teus olhos não me denunciam
As minhas pertencem-te…
Não são já mãos que acariciam
São corpos que se fundem
A mesma química
Os mesmos iões
A minha pele na tua
E sinto-te como meu
A tua língua tem o meu gosto
A tua boca sabe à minha boca.
Vana



Colo os meus olhos na tua alma.
Sei que a nobreza que te cobre a pele
Tapa apenas a pessoa em que te queres tornar.

Colas os teus olhos na minha alma.
Sei que a quietude que te caracteriza
Esconde só a liberdade que tanto desejas.

De almas coladas dançamos já sem ouvir a música,
Na sintonia que cronos nos ofereceu
E que agarrámos com fervor.
As nossas mãos tocam-se e abalamos o mundo
Numa tontura que me faz querer fechar os olhos,
Só para não me perder em cores desnecessárias,
Mas o teu olhar sempre vem em busca do meu
Para não o poder de vista.
A multidão aplaude e acorda a nossa dança.

Largamos os nossos olhos
E apertamos com força as mãos,
O meu corpo pede o teu
E a distância não nos dissuade.
Nesse momento a minha alma ainda sabe
Que qualquer lugar será nosso
Se o este olhar nunca se perder.
Wayfarer

sexta-feira, setembro 14, 2007

Fogo e Noite

Saudades de ver o barbas a partir o palco e a saltar no meio do público... Volteeemm!!

Será que coloquei algum catrapázio na porta a dizer em letras gordas e psicadélicas: “Entrem, estejam à vontade!”?! Então porque é que de repente têm entrado tantas pessoas na minha vida, mesmo aquelas que já tinha apagado da lista “pessoas a conhecer”!! Se há coisa que deve ser doseada são as pessoas! Cada uma pode ser importante ou indiferente consoante o contexto em que aparece, já para não falar da energia e tempo necessários ao conhecimento de alguém… Assim não dá! :S

A liberdade de fazer tudo o que me apetece é das coisas mais importantes na minha vida e no entanto, deparo-me com uma catadupa de consequências que não sei bem como enfrentar… Basicamente, há demasiada informação por processar e quando isso acontece, fugir é o único escape… Ser assertiva, claro, fria, por vezes, mas depois pisgar-me a correr com medo de sufocar com tanta informação e com a possibilidade de ficar presa em algo que me vai fazer abdicar de outras pessoas…

Perceber o que estou a sentir seria um bom trabalho, mas as sensações misturam-se e já não as sei catalogar. Uma coisa é certa, sei aquilo que consigo ser quando estou completa. Poucos momentos roubados ao tempo chegaram para tal. E neste momento não é isso que eu sinto. E neste momento, qualquer coisa mais pequena não chega. Simplesmente não é suficiente.
Saber que as minhas acções têm efeitos nos outros é um peso terrível….

“És eternamente responsável por aquilo que cativas!” já dizia o Saint-Exupèry…
Já me bastam as novas responsabilidades (oficiais) pelas vidas dos outros. Vou fazer greve de cativações… Tenho uma fuga à vista, como nos bons velhos tempos… E de novo a sensação de não levar nada até ao fim. É o que acontece quando as fasquias sobem… Mas não trocava aquela sensação de SABER, aquele click intergaláctico, aquele mundo surreal, por nenhuma certeza-cega neste momento. (Ai Lud, tinhas uma metáfora-que-não-é-metáfora-porque-é-mesmo-físico tão boa para isto!)

Devíamos ser como no Um e poder ter vidas paralelas para ver onde nos levava cada uma das nossas escolhas… O que poderei estar a perder?

Bem, a liberdade pertence-me, acho que preciso de tempo e de iluminação para decidir o que fazer… Desta vez a vodka seria, decididamente, uma má solução! (oh não, já nem vodka me salva!!)

Baaah, não tenho tempo para isto! E porque é que as pessoas precisam de tantas explicações anyway?! E porque é que continuo a querer ser responsável quando acho que sou livre? Alguém aqui anda muito equivocada... Serei eu? :S

quinta-feira, setembro 13, 2007

Por que desertos andas tu?
Por mais que a preocupação e a distância se esforcem, sinto-te aqui. Os lugares onde vou, as conversas das pessoas sentadas à minha frente no comboio, as frases que leio, as músicas que ouço, tudo o que me tem feito sorrir e desesperar, estão cheios de lembranças de ti. Deixas-te o quotidiano, mas eu vivo-o por ti, ansiando pelas histórias que vais trazer. O que te fez sentir a cidade azul e branca? E a areia cor de açafrão? Sempre conseguiste ir à cascata? Os “buraquinhos” têm tintas malcheirosas ou é apenas mito? Tenho tanto para ouvir e tanto para te contar que nos arriscamos a outra conversa de surdos como no dia das caixas, antes de partires. Mas não quero perder nem um segundo dos teus relatos! Espero que te encontres ao encontrares mais um “bocadinho do mundo”.

Aqui o tempo não parou e é tão mais fácil quando posso ouvir a tua voz.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Rir ou Chorar, eis a questão! Bem-vindos à ambiguidade da minha vida!
O estágio já começou, meio dissimulado, meio formalizado, e cá estou eu espantada com a catadupa de desafios com que me deparo. “Mas eu não me sinto preparada!!” “Nem nunca se vai sentir”. Talvez. A verdade é que consigo ser eu em cada uma das pequeninas coisas que faço. Sinto que está ali alguém que confia e acredita e que deixa voar…. Era disso que estava a precisar.
E hoje, ironia do destino, recebemos o primeiro caso: tentativa de suicídio. Afinal não fugi assim tanto da minha paixão pseudo-intelectual. O medo está cá, mas a curiosidade (e a cuidadosidade) hão-de superá-lo.

quinta-feira, setembro 06, 2007









Conclusão da semana: os fotógrafos não podem ter filhos.
Nem sequer é bem não poder, é mesmo não dar jeito nenhum! A possibilidade existe e é real, mas se houver princípios de educação e acompanhamento do desenvolvimento dos catraios que impeçam o depósito, sistemático e prolongado, em casa de avós, tios, padrinhos, amas, colégios internos, torna-se praticamente impossível. Já nem falando das saídas do país que a coisa exige e o bichinho pede, qual alma errante em busca do aperfeiçoamento do olhar.
A experiência da última semana diz-me que biberões, fraldas, sonos, papas, choros e fichas de electricidade são altamente incompatíveis deambulações fotográficas, saídas em hora mágica e deslocações a lugares menos seguros. Aqui a “possibilidade” entra na eventualidade de se encontrar um cônjuge caseirinho e pouco fotográfico (que seria uma grande seca), o que no meu caso seria complicado, já que ele não teria os atributos maternais que alimentam os piquenos.
Eu gosto de ser prima, é verdade! É bom poder brincar com as miúdas e agarrar nelas para as devolver aos pais quando estão a chorar. Devo dizer também que dão óptimos modelos! No entanto, na última semana, abandonei as minhas funções em prol da fotografia e quase não dei conta. É uma incompatibilidade de prioridades muito grande. E isto lembra-me uma cena do Before Sunset (como não podia deixar de ser) em que a Celine diz que o seu namorado fotojornalista (que é um bacano porque nunca está em casa) fotografa pessoas aflitas antes de as ajudar. E eu compreendo isso. A busca do olhar é tão forte que acaba por nos separar de tudo o resto. A necessidade de captar a essência do momento implica fazê-lo durar, pelo menos enquanto não dermos o nosso melhor click. Observadores absorventes com apenas um olhar presente no mundo. Tudo o resto deixa de existir. O “momento decisivo” é a prioridade e a entrega é total.
Esta brilhante conclusão entronca com as dúvidas dos últimos tempos, acerca do será-que-estou-no-curso-certo? Ó dúvida cruel… Oh asas cortadas e futuro incerto…

terça-feira, setembro 04, 2007


Feliz Aniversário aos 2!
=)




Familias

É bom irmos sabendo, de quando em quando, que certas pessoas e famílias, que passaram na nossa vida, continuam a lutar pelos seus sonhos. O tempo e a distância podem tentar afastar-nos mas momentos como estes confirmam que valeu a pena conhecer tão interessantes pessoas.

keep on dreaming!