quinta-feira, setembro 06, 2007









Conclusão da semana: os fotógrafos não podem ter filhos.
Nem sequer é bem não poder, é mesmo não dar jeito nenhum! A possibilidade existe e é real, mas se houver princípios de educação e acompanhamento do desenvolvimento dos catraios que impeçam o depósito, sistemático e prolongado, em casa de avós, tios, padrinhos, amas, colégios internos, torna-se praticamente impossível. Já nem falando das saídas do país que a coisa exige e o bichinho pede, qual alma errante em busca do aperfeiçoamento do olhar.
A experiência da última semana diz-me que biberões, fraldas, sonos, papas, choros e fichas de electricidade são altamente incompatíveis deambulações fotográficas, saídas em hora mágica e deslocações a lugares menos seguros. Aqui a “possibilidade” entra na eventualidade de se encontrar um cônjuge caseirinho e pouco fotográfico (que seria uma grande seca), o que no meu caso seria complicado, já que ele não teria os atributos maternais que alimentam os piquenos.
Eu gosto de ser prima, é verdade! É bom poder brincar com as miúdas e agarrar nelas para as devolver aos pais quando estão a chorar. Devo dizer também que dão óptimos modelos! No entanto, na última semana, abandonei as minhas funções em prol da fotografia e quase não dei conta. É uma incompatibilidade de prioridades muito grande. E isto lembra-me uma cena do Before Sunset (como não podia deixar de ser) em que a Celine diz que o seu namorado fotojornalista (que é um bacano porque nunca está em casa) fotografa pessoas aflitas antes de as ajudar. E eu compreendo isso. A busca do olhar é tão forte que acaba por nos separar de tudo o resto. A necessidade de captar a essência do momento implica fazê-lo durar, pelo menos enquanto não dermos o nosso melhor click. Observadores absorventes com apenas um olhar presente no mundo. Tudo o resto deixa de existir. O “momento decisivo” é a prioridade e a entrega é total.
Esta brilhante conclusão entronca com as dúvidas dos últimos tempos, acerca do será-que-estou-no-curso-certo? Ó dúvida cruel… Oh asas cortadas e futuro incerto…

3 comentários:

Drifter disse...

É isso que me falta para poder ser fotógrafo. Sou demasiado "preocupado" como diria a nossa conhecida Deborah... Os disparos que faço são consequência dos momentos de observação alheada que tenho. Mas normalmente sou um observador que se esquece da câmara na bolsa e que dispara apenas o obturador da memória... Sou mais impelido a viver o momento que a fotografá-lo. Mas depois fico frustrado porque adoro aquele rectangulozinho com cores contrastantes que resulta de uma visão espontânea e que congela um momento único. Sou um paradoxo andante. Mas pode ser que assim possa ter filhos... :P

Verkai disse...

Gosto das fotos... a noite e a morte de mãos dadas, bem apanhado.
jokas grandes

José Lima disse...

A Deborah tem muita razão nalgumas coisas que diz, talvez a maneira de ser que leva as pessoas a serem fotógrafas seja também aquela que as torna espíritos erráticos que não acentam nem querem fazê-lo... "Todos os grandes fotógrafos" eram assim segundo ela, não tinham filhos, não tinham relações, ela própria tinha apenas coisas casuais, pequenos fogos. Ainda vou nos primeiros capítulos do livro, sei que as coisas mudam lá mais para a frente, estou desejoso de saber onde ela chegou e o as diferença de pensamento face ao início do livro, depois de ter marido, depois de ter um filho...

O que é um curso certo? Há coisas em que não é preciso saber se estamos no sítio certo ou não, tu sabes como se faz, já o disseste muitas vezes e de certeza que vais continuar a dizer a todos os que encontras, "sente", não quer dizer que depois as pessoas o façam realmente! Agora tu que o dizes a todos tens obrigação de o fazer!

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