segunda-feira, dezembro 17, 2007

Crashing Down

These back steps are steeper to the ground
The brightest stars are falling down
I’m walking the edge, walking the tightest rope
We can be frank, reality rips on through, rolling like a hurricane
I’m over the bridge and under the rain
If everything’s falling, if everything’s changed
If I’m in the open, if I’m in the way
What am I doing here
If you’re not with me
What have I got to live for, if it’s just my own dream....

Mat Kearney

segunda-feira, dezembro 10, 2007

- Como estás tu?

- No meio! Precisamente a meio de tudo quando quero ter, fazer ou ser na vida. Hoje, nem as pequenas vitórias quotidianas me dão alento. Nada pode ser atingido já! Qualquer coisa que possa começar, com mais ou menos entusiasmo, só terá o seu culminar daqui a muito, muito tempo, com sorte e se o enfado não levar a melhor.

Posso continuar a ler artigos para tese, a reunir os artigos para o “artigo”, posso escrever mais uma carta, posso ir pensando nos objectivos/estatutos/formalizações de um dos muitos projectos profissionais que não passam disso, posso ir tirando mais umas fotos com todas as limitações materiais associadas, posso praticamente começar e continuar muitas coisas. Mas isso deixa-me exactamente no mesmo lugar: a meio. Eu sou um projecto de tudo e mais alguma coisa. E um projecto por si só não chega a lado nenhum! (E só na ultima frase já cometi dois erros de comunicação! Bolas, nem isso consigo evitar)

Para quando a concretização? Isto do hábito e da estabilidade não são muito o meu género! Nem sequer é saudável! Venha o elemento estranho ao sistema que ajuda a provocar a crise e cria mudança e equilibração! (Bolas que até o locus de controlo se externalizou) Então, o que posso eu fazer quando a isto? Continuar nos meus passinhos pequeninos esperando que os factores se conjuguem? Apanhar uma intoxicação alcoólica? Ah, sounds great! Parece que a Ema vai voltar, a excepção, mais ou menos induzida, à mediania! I can’t wait to feel free!

quarta-feira, novembro 28, 2007

Eu: (explico sucintamente a resolução da coisa)
Ele: Ah, ok! Então está tudo!
Trrriiimmm
Ele: espera só um bocadinho… (atende) sim, sim, já falei disso com a Dra. Ana, Sim, Sim, já sei, Sim… Sim. Está combinado. Sim, Sim, Siiiim! [será que me falta algum anuir em tom de frete?]
Eu: Então, elas estavam a complicar?
Ele: Mulheres, sabes como é!

I Love it! Nós os homens somos mesmo pragmáticos! :P



PS: É verdade, homem mas não completo… Falhei o jogo de hoje do Benfica (será?)

quinta-feira, novembro 22, 2007

O "Segredo" Revelado

Fizeram um pedido ao nosso centro de documentação, um livro de auto-ajuda, “que fale daquelas coisas que nós podemos atrair”… Dado o contexto achei importante clarificar que esse não é o âmbito da psicologia, comentário, ao que parece, surpreendente e chocante. Chego ainda a acreditar que a fnac tem uma parte na culpa, ao incluir na secção das ciências sociais e humanas, livros com flores coloridas com títulos tão apelativos como: “Seja feliz em 10 lições!”. Mencionámos superficialmente títulos com a palavra Optimismo mas devem ter soado a “demasiado trabalho!”. Anyway, também não é na nossa responsabilidade fazer aconselhamentos literários.

Durante a caminhada nocturna que me levava, apressada, para os transportes públicos que não esperam pelos lentos, recuperei o tema da necessidade de mistificar. Ora, toda esta nova vaga de “atracções” que se ouvem por aí, são actualmente da responsabilidade da Rhonda Byrne e do seu “Segredo”, que afinal não é mais do que um plágio de tudo o que já se disse na Profecia Celestina (James Redfield), livros sobre Reiki e outras abordagens milenares do mundo em termos de Energia universal da Vida. Até já Richard Bach o tinha feito no Ilusões ao “magnetizar” uma pena azul!

Depois da descodificação do Código da Vinci, achei que não podia adiar mais A Desmistificação do Segredo!

As pessoas precisam de envolver sempre em algo de muito místico, oculto, divino, superior, aquilo que fazem, sozinhas, através de mecanismos muito mais simples!! O problema aqui é que isto é muito difícil de aceitar… Acreditar que uma coisa depende de mim pesa muito mais na responsabilidade, na consciência, nas consequências, do que a crença de que há alguém, alguma coisa, a trabalhar por mim. Se não conseguir então a culpa não foi minha, não era eu que estava a mudar…. Segundo o “Segredo” só temos que acreditar, pensar várias vezes no resultado, e não precisamos de fazer absolutamente mais nada! Parece fácil! Se calhar até é só isso que temos que fazer, outras vezes há mais alguma acção da nossa parte…. Vejamos…

O Segredo falada de casos de recuperação de “doenças crónicas, depressões”, traumas físicos, doenças cancerígenas, etc… Ora, nem sei de deva explicar como OBVIAMENTE uma pessoa só pode recuperar de uma depressão se acreditar que pode viver feliz! O grande problema da depressão são os pensamentos cada vez mais negativos! Parece-me lógica esta mudança! Aliás, o que faço neste momento em terapia é exactamente “positivizar” as pessoas, salientar aquilo que já fazem bem, aquilo que já têm de bom enquanto pessoas e o que podem ainda melhorar! Claro, claro, que os terapeutas também são uma espécie de divindades mágicas para algumas pessoas… Mas no fundo, é tão simples quanto “focar no positivo”. Quanto às outras doenças, também é sabido que o optimismo é uma grande arma na recuperação, até no cancro, caso em que se costuma dizer “é metade do tratamento”! “Segredo”? Não estou a ver nenhum!

O livro dá ainda como adquiridas algumas instâncias que os investigadores ainda não confirmaram ter existido como os Jardins Suspensos da Babilónia… No entanto, isso não tem qualquer gravidade se tivermos em conta o numero de “cientificamente comprovado” que mostra logo que todos estes pseudo-cientistas não passam disso mesmo e que a autora não sabe sequer a definição de “ciência”… É que esta instituição deixava de o ser se houvesse comprovações!!! A primeira característica da ciência é estar em constante actualização!! Das primeiras cosias que se aprendem em cadeiras de epistemologia é que é estritamente proibido usar a palavra “provado” ou “comprovado”! Diz-se “evidências” ou “os resultados apontam para”… Há sempre uma janela aberta para a influência de outras variáveis, outros contextos, outros estudos que podem vir a mostrar coisas diferentes, ou mesmo o contrário. Em ciência não há verdades absolutas! Essas deixamo-las para as pessoas que já não tencionam evoluir mais e que gostam de viver seguramente enganadas! “Em ciência a verdade é provisória e a certeza probabilística!” (Duarte, desde sempre) (Ah, nota mental, quando se apresentam estudos, em “Ciência”, inclui-se a referência, senão é considerado plágio, além de que ataca uma característica funcamental desta coisa que apregoam constar no vosso livro e que é o facto de ser “verosímil e verificável”! Ou seja, a comunidade tem o DEVER de conhecer e ler o estudo referenciado, replicá-lo e chegar aos mesmos resultados, senão, estamos perante fraude, o que depois do plágio, é algo de gravemente punível!)

Não resisto em apresentar a grande “prova” destes senhores… Segundo Bob Proctor “o universo inteiro emergiu do pensamento!!!” UUUHH E eu pergunto-me “pensamento de QUEM se ainda não havia universo??” hummm, amigos, acho que faltam aqui alguns argumentos pelo meio….
O livro tem ainda uma boa lição sobre como positivar… realmente pensar nas coisas más leva a ver-nos coisas más e pensar no que não queremos não conduz a um objectivo efectivamente…. “Segredo”? Onde, onde? É preciso de falar de “atracção” e electrões pelo meio? Parece-me que não!

Sobre a atracção, gostava ainda de dar um exemplo do “nosso” livro:
É por isso que as pessoas entram numa espiral quando entalam o dedo do pé ao sair da cama. O dia inteiro corre da mesma maneira.” O célebre “isto hoje não vai correr bem!!”
Por outro lado:
“Se começar com um dia bom e estiver num estado de espírito particularmente feliz e se não deixar que nada altere o seu humor, continuará a atrair, pela lei da atracção, mais situações e pessoas que sustentam esse sentimento feliz!”
Isto em ciência (relembro, aquilo que onde livro apregoa basear-se) chama-se expectativa ou Self-fulfilling Prophecies (ver por exemplo o trabalho de Robert K. Menton). Estudos muito simples, sobre as expectativas de professores em relação aos alunos e respectivos resultados, mostram que aquilo que esperam influência a forma como investem na sala de aula (com um simples, questionar, chamar ao quadro, castigar, elogiar) e, consequentemente os resultados. Um “bom aluno” será sempre um bom aluno enquanto um professor acreditar que sim, e o contrário (e mais frequente) acontece da mesma forma. E aqui chegamos ao ponto fulcral da questão… Quando acreditam que é possível, as pessoas MOVEM ESFORÇOS para esse objectivo, ainda que muitas vezes não se dêem conta… Perceber que o esforço depende delas é desmotivante quando devia ser visto como um bilhete rumo à liberdade, ao não precisar de entidades superiores ou instâncias energéticas para alcançar objectivos… No entanto, dada a procura sequisosa do ser humano por tudo quanto é místico, as pessoas acabam sempre por incluir mediadores fantasiados só pelo medo de admitir que têm a responsabilidade de tomar as rédeas das suas vidas… Este é o grande Segredo, a verdade que a humanidade anda a camuflar há milénios ao refugiar-se em religiões e divindades… O Ser humano tem poder e ter medo de o usar deliberadamente!

É claro que este meu texto dá mais trabalho a ler do que um livro cheio de tópicos e bonequinhos. Claro que as minhas assustadoras palavras, são-no, porque devolvem ao homem o comando das suas vidas e da sua Felicidade… Claro que é mais fácil acreditar que há uma “lei de atracção” a trabalhar POR nós…

Só gostava de poder escrever isto com mais evidências Científicas e com mais calma e ponderação… Da próxima vez que olharem para o "Segredo" (que não o-é) e para aquilo que “ele fez” por vós, SAIBAM conscientemente que foram VOCÊS que engrenaram essa mudança, com as vossas próprias forças, recursos, com a ajuda de pessoas significativas, com as vossas expectativas como motor! Saibam que a única coisa que actuou sobre vós foi talvez uma self-fulfilling prophecie que Vocês activaram ao acreditar ser possível…
Acrditem primeiro em vós....

sexta-feira, novembro 16, 2007

Today's lesson from Grey:

"No matter how badly a thing is hurting us,
Sometimes, letting it go hurts even more."

segunda-feira, novembro 12, 2007

Apetece-me fotografar AGORA!

domingo, novembro 11, 2007

Não sei.
Falta-me um sentido, um tacto
para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes,
mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo a ler, mas cansa-me o que inda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
é tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.
(...)

Álvaro de Campos

sábado, novembro 10, 2007

Tudo passa. Demasiado rápido, demasiado intenso. Mas passa. Uma pessoa é muito interessante durante dez minutos e logo passo à frente. Grito, pulo e falo, vezes sem conta, por motivos diferentes. Olho, reparo, delicio-me, sonho, construo um projecto futuro, tudo em poucos minutos, para dar lugar a outra coisa. Sinto-me imensamente feliz, tenho uma raiva brutal, choro compulsivamente, quase em simultâneo. O que o mês passado era claro, hoje é negro. O que ontem era ordem, hoje é caos. O que há cinco minutos fazia todo o sentido agora é um enorme disparate.

O que fazer quando já nada é coerente num dado momento? Quando não se consegue levar uma decisão até ao fim?

sábado, outubro 27, 2007

Por vezes, aquelas pessoas que te impelem a lutar por aquilo que queres, são as mesmas que te mostram, a cada gesto, que não interessa o quanto te esforças, porque não vais conseguir alcançar o que para ti é mais verdadeiro e mais te chama na vida.

domingo, outubro 21, 2007


Não é que isto da vida esteja propriamente a correr bem, mas estou Feliz!
Já consegui resolver questões pendentes, estou a empurrar pessoas para que agarrem as rédeas das suas vidas e com resultados, estou a dar o meu melhor naquilo que gosto, tenho conseguido fotografar, borga já não é uma raridade tão grande e consigo dar atenção a mais pessoas do que o habitual! Weeeeeeee!
Claro que esta hiper-estimulação me está a tirar o sono, mas ando contente, who cares!? :P
Happyyyyyyy!!
Why? We exist!!! What else could I ask for?

domingo, outubro 14, 2007

Actualizamo-nos de cada vez que conhecemos alguém.

Numa conversa demorada, em pequenos momentos que juntos se tornam grandes, na troca de acções que caracteriza o processo de Conhecer, articulamo-nos com uma forma diferente de ser, protagonizada pelo outro e, actualizamo-nos.
A pessoa que temos à frente apresenta-nos um desafio a cada gesto, a casa ideal, a cada olhar. Somos obrigados a concordar, discordar, compactuar, sorrir de volta, a responder com o nosso comportamento, como a nossa pessoa, ao que o outro nos apresenta. Facilmente se trava uma dança de passos e saberes que é única porque só é possível naquela díade. Aceitar o desafio de conhecer alguém enriquece porque nos faz ser mais arrojados ou mais comedidos, mais filosóficos ou mais pragmáticos. Em termos de conteúdo o upgrade nota-se ainda mais! Não posso deixar de aprender com alguém que me fala de cinema, de poesia, de mecânica, de tampas de esgoto, de facas de cozinha, de rolhas de cortiça, nem posso deixar de investir nessa aprendizagem se quiser continuar a comunicar com estes “especialistas”.
Se uma pessoa me faz correr pela Baixa de chapéu de chuva em riste para a molhar e se me faz jogar às escondidas no metro para fugir da mesma ameaça, então estou a redescobrir-me, a actualizar-me nessa relação.

E assim, mais uma vez, fica a frase do Professor Pina Prata, que (também ela) se vai actualizando à medida que consigo ir sendo, cada vez mais….

“Vai-se sendo pessoa num contexto de relações.”

domingo, outubro 07, 2007

“Era já o cair da noite de um dia de Novembro, numa pequena vila, situada no sopé de uma montanha. Um velho e bom homem, estimado por todos os habitantes da vila, vinha andando por um escuro caminho que ligava a igreja a sua casa.
Quando chegou à porta retirou o casaco e dobrou-o. De repente, e de forma inesperada, prostrou-se de joelhos e começou a fazer, no solo empoeirado, movimentos em semi-circulo com a palma da mão direita. Passaram-se alguns minutos sem que ninguém aparecesse. De repente, surgiu um dos habitantes da aldeia que vivia do outro lado da rua. Espantado de ver o homem naqueles preparos, encaminhou-se rapidamente na sua direcção.
- João! – chamou o vizinho, perguntando: - Passa-se alguma coisa?
O bom homem olhou para cima surpreendido e respondeu: - Meu filho, penso que perdi as minhas chaves.
- Perdeu as suas chaves? Não se preocupe que nós vamos ajudá-lo a encontrá-las – Disse o vizinho.
Não havia passado muito tempo e quase toda a aldeia estava de gatas tentando encontrar as chaves perdidas, percorrendo todos os centímetros de chão e arbustos que rodeavam a casa do João.
- João – perguntou o outro vizinho – tem a certeza que perdeu as chaves?
- Claro, meu filho, tenho a certeza – respondeu o homem.
- Bom – disse o vizinho. – E tem a certeza de que as perdeu aqui?
O homem ficou em silêncio, olhando para o caminho. Em seguida disse:
- Não, eu não as perdi aqui – e apontando para a vereda escura que levava á igreja, disse: - Eu perdia-as ali.
- Perdeu-as lá atrás no caminho? – perguntou um vizinho surpreendido. – Então desculpe-me João, mas porque procura as chaves aqui.
O João levantou-se, sorriu pacientemente, e apontando para a luz da porta da sua casa disse:
- Porque aqui há mais luz, meu filho!”


(In Educar para o Optimismo, Helena Águeda Marujo, Luís Miguel Neto e Maria de Fátima Perloiro)

Quantas e quantas vezes procuramos respostas onde sabemos que elas não estão?
Quantas e quantas vezes permanecemos sem chaves numa luta perdida, apenas por medo de abandonar o conhecido, o confortável, o “iluminado”?
Quantas vezes nos permitimos viver pela metade apenas com medo de avançar para o desconhecido?

sexta-feira, outubro 05, 2007

A minha vida onírica trai-me a cada noite que passa. O corre-corre diário faz-me parecer distante do processamento amigdalar (*) chegando ao ponto de afirmar a cicatrização de feridas abertas. Mas se o abismo da noite consegue trazer consigo o exacerbamento das coisas, o sono de cansaço não dão muito espaço para que tal aconteça e é nos sonhos que tudo se revive. Assim, todos os dias há um acordar com as pessoas e os momentos que se guardam em gavetas à luz do dia. Sequências de argumentos cada vez mais elaborados que remetem para histórias inacabadas e me acordam com esperança ou angustia.

Abro a janela e esqueço mais uma vez.

“Há uma lei da natureza, mística e maravilhosa, que diz que três das coisas pelas quais mais ansiamos na vida – felicidade, liberdade e paz de espírito – são alcançadas quando as damos a outra pessoa.”

(Autor Desconhecido, Infelizmente)

(*) Referência à Amígdala, essa sim o centro das emoções e não (como insistem em dizer as pessoas ditas “apaixonadas” que ainda por cima acham que os outros são incapazes de sentir o """""mesmo"""") o coração, “mero” órgão bombeador de sangue.

domingo, setembro 30, 2007


Usas o palco como extensão de ti. Cantas, gritas, palmilhas aquele chão de madeira, encarnando alguém que não és tu mas que vem de ti, alguém que “ajudas a ser”. E quando aquele quadrado mágico de chão não chega, vives a vida real como uma peça de teatro, exacerbando os sentimentos, rebuscando os gestos, tocando naqueles que têm a sorte de ver passar nas suas vidas. Sem medo de rir, chorar ou defender com convicção tudo o que pensas, interpretas o papel daquilo que és, uma personagem rica e complexa, no palco da vida. Levas em ti o sonho e aqueles que contigo o partilharam. Guardas as memórias de papel e os momentos vividos no passado fantasiando com a possibilidade de te realizares no futuro.

Naquela linha ténue entre o teu palco e o meu cenário, partilhamos artes, palavras e memórias. Levamos connosco o sonho e lamentamos os que não o têm. Fazes-me rir e pões-me a chorar, com meras conversas ou com abraços apertados que do simples trazem o que de mais profundo há em nós.

És grande e sabes que não te queres habituar, embora a vida te obrigue a isso. Reinventas-te nos teus numerosos papéis e és cada vez mais.

Sê o que quiseres….

Até que um dia o pano caia.

sexta-feira, setembro 28, 2007

O senhor Pedro, o mesmo senhor Pedro de todos os dias, que todos os dias pergunta "o que é que vai ser menina?" e que todos os dias empilha cafés em cima do balcão, esse senhor Pedro colocou, no pires da chávena onde depositei esperanças de um bom dia, um pacote de açúcar. Esse pedaço amarelo e castanho de papel dizia:

"Um dia ponho a mochila às costas e vou conhecer o mundo. Hoje é o dia."

O dito pacote continua colado no meu painel, e olho para eles todos os dias, esperando pelo momento de o tornar real.

keep on pretending...



quarta-feira, setembro 26, 2007

Hoje, caminhando através dos automóveis estacionados, senti uma presença que caminhava ao meu lado. A imagem, espelhada nas pinturas metalizadas com reflexos de fim de tarde, mostrava alguém que não reconhecia e no entanto, era eu o único ser naquele local. Demorei a perceber que era apenas "eu".
Estranho não me identificar com a minha própria figura.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Se tivesse trazido máquina tu sentavas-te naquele banco de frente para o relvado que a luz rasante do fim do dia ilumina e onde os pombos e os pardais se passeiam. Os dourados contaminariam a cena oferecendo reflexos brilhantes ao teu cabelo, despenteado pela brisa suave e corte recente. De pés cruzados, apoiavas as mãos no cimento aquecido pelo sol que recebias gratamente. Depois de um qualquer comentário estereotipado sobre classes profissionais, atiravas a cabeça para trás numa gargalhada e eu congelaria o momento com as minhas lentes. Mas não levei a câmara… e terei que guardar assim este bocadinho de dia.

domingo, setembro 23, 2007

Pretending…
A procura de uma descrição, análise ou explicação para os tempos presentes, toma hoje a forma de uma palavra… Pretending… Vagueio em indefinições fingindo saber o que estou a fazer, fingindo ter a dignidade quando há muito ela me abandonou, fingindo ser forte quando me sinto a derreter por dentro.

Não posso simplesmente sentar-me à mesa com as pessoas e despejar os meus pensamentos incongruentes, dispersos, contaminados. Preciso de me encontrar no caos, de me preparar para abdicar se tiver que ser, preciso de dar-me a um rumo.

Enquanto isso não acontece, vou continuando a passear-me na Baixa da vida, por entre edifícios e multidões, de cabeça erguida e passos firmes, pretending


sexta-feira, setembro 21, 2007

Tatuagens

Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti

Fazes pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar

Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim

Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão

Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti

Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar

Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim

Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão

Mafalda Veiga

E hoje podia ser "um pouco de céu" mas o que para sempre ficará tatuado em mim prevalece e não o consigo apagar.

segunda-feira, setembro 17, 2007

- gosto desta conversa entre parênteses :P
- a minha vida é cheia de parênteses



Pois… Quando o espaço-tempo a que chamamos “realidade” não nos permite fazer tudo o que queremos simultaneamente, nós abrimos parênteses! É que uma vez colocados, não afectam a estrutura sintáctica do parágrafo e portanto, são clandestinos, ilegais, reprováveis até.
Este carácter paralelo e não-oficial ajuda-me a ser mais um bocadinho daquilo que quero ser, salvo, claro quando se revestem de futilidade e não têm qualquer outro fruto que não o prazer do imediato.
Entre () vou sendo cada vez mais. Entre () tudo o que não é contemplado pelas possibilidades politicamente correctas, passa incólume. Os () ampliam possibilidades, por vezes incompatíveis, na minha vida. Os () normalmente não pedem satisfações.


Porto inseguro

A liberdade bate à minha porta,
tão carente de mim, pedindo abrigo.
Quero ampará-la e penso que consigo
detê-la, mas seria tê-la morta.

Livre para pairar num céu sem peias,
na solidão de um vôo sem destino,
por que perder, nos olhos de águia, o tino,
vindo a quem se agrilhoa sem cadeias?

Deusa das asas! Seu vagar escapa
a meus sentidos, seu desejo alcança
tudo que a mim se esconde atrás da capa.

Vá embora daqui! Siga seu rumo!
Sou prisioneiro, um órfão da esperança
e arrasto um vôo cego em chão sem prumo.

Luís António Cajazeira Ramos



baaaaaah :S

sábado, setembro 15, 2007

Toda a dor em mim me faz querer esquecer quem sou, perdida em futilidades, dando-me ao imediato, a sofocar à superficie.
O que fazer quando até a boémia nos vem pedir satisfações?


Os meus olhos perdem-se nos teus
Um só momento e fico presa a ti
A tua pele conta uma história que não é a minha
Mas a tua química pertence-me
As tuas mãos no meu corpo
E a minha boca na tua
O teu sabor é o meu
A tua língua tem o meu gosto
A minha boca sabe à tua boca.

O teu corpo conta a minha história
As rugas dos teus olhos não me denunciam
As minhas pertencem-te…
Não são já mãos que acariciam
São corpos que se fundem
A mesma química
Os mesmos iões
A minha pele na tua
E sinto-te como meu
A tua língua tem o meu gosto
A tua boca sabe à minha boca.
Vana



Colo os meus olhos na tua alma.
Sei que a nobreza que te cobre a pele
Tapa apenas a pessoa em que te queres tornar.

Colas os teus olhos na minha alma.
Sei que a quietude que te caracteriza
Esconde só a liberdade que tanto desejas.

De almas coladas dançamos já sem ouvir a música,
Na sintonia que cronos nos ofereceu
E que agarrámos com fervor.
As nossas mãos tocam-se e abalamos o mundo
Numa tontura que me faz querer fechar os olhos,
Só para não me perder em cores desnecessárias,
Mas o teu olhar sempre vem em busca do meu
Para não o poder de vista.
A multidão aplaude e acorda a nossa dança.

Largamos os nossos olhos
E apertamos com força as mãos,
O meu corpo pede o teu
E a distância não nos dissuade.
Nesse momento a minha alma ainda sabe
Que qualquer lugar será nosso
Se o este olhar nunca se perder.
Wayfarer

sexta-feira, setembro 14, 2007

Fogo e Noite

Saudades de ver o barbas a partir o palco e a saltar no meio do público... Volteeemm!!

Será que coloquei algum catrapázio na porta a dizer em letras gordas e psicadélicas: “Entrem, estejam à vontade!”?! Então porque é que de repente têm entrado tantas pessoas na minha vida, mesmo aquelas que já tinha apagado da lista “pessoas a conhecer”!! Se há coisa que deve ser doseada são as pessoas! Cada uma pode ser importante ou indiferente consoante o contexto em que aparece, já para não falar da energia e tempo necessários ao conhecimento de alguém… Assim não dá! :S

A liberdade de fazer tudo o que me apetece é das coisas mais importantes na minha vida e no entanto, deparo-me com uma catadupa de consequências que não sei bem como enfrentar… Basicamente, há demasiada informação por processar e quando isso acontece, fugir é o único escape… Ser assertiva, claro, fria, por vezes, mas depois pisgar-me a correr com medo de sufocar com tanta informação e com a possibilidade de ficar presa em algo que me vai fazer abdicar de outras pessoas…

Perceber o que estou a sentir seria um bom trabalho, mas as sensações misturam-se e já não as sei catalogar. Uma coisa é certa, sei aquilo que consigo ser quando estou completa. Poucos momentos roubados ao tempo chegaram para tal. E neste momento não é isso que eu sinto. E neste momento, qualquer coisa mais pequena não chega. Simplesmente não é suficiente.
Saber que as minhas acções têm efeitos nos outros é um peso terrível….

“És eternamente responsável por aquilo que cativas!” já dizia o Saint-Exupèry…
Já me bastam as novas responsabilidades (oficiais) pelas vidas dos outros. Vou fazer greve de cativações… Tenho uma fuga à vista, como nos bons velhos tempos… E de novo a sensação de não levar nada até ao fim. É o que acontece quando as fasquias sobem… Mas não trocava aquela sensação de SABER, aquele click intergaláctico, aquele mundo surreal, por nenhuma certeza-cega neste momento. (Ai Lud, tinhas uma metáfora-que-não-é-metáfora-porque-é-mesmo-físico tão boa para isto!)

Devíamos ser como no Um e poder ter vidas paralelas para ver onde nos levava cada uma das nossas escolhas… O que poderei estar a perder?

Bem, a liberdade pertence-me, acho que preciso de tempo e de iluminação para decidir o que fazer… Desta vez a vodka seria, decididamente, uma má solução! (oh não, já nem vodka me salva!!)

Baaah, não tenho tempo para isto! E porque é que as pessoas precisam de tantas explicações anyway?! E porque é que continuo a querer ser responsável quando acho que sou livre? Alguém aqui anda muito equivocada... Serei eu? :S

quinta-feira, setembro 13, 2007

Por que desertos andas tu?
Por mais que a preocupação e a distância se esforcem, sinto-te aqui. Os lugares onde vou, as conversas das pessoas sentadas à minha frente no comboio, as frases que leio, as músicas que ouço, tudo o que me tem feito sorrir e desesperar, estão cheios de lembranças de ti. Deixas-te o quotidiano, mas eu vivo-o por ti, ansiando pelas histórias que vais trazer. O que te fez sentir a cidade azul e branca? E a areia cor de açafrão? Sempre conseguiste ir à cascata? Os “buraquinhos” têm tintas malcheirosas ou é apenas mito? Tenho tanto para ouvir e tanto para te contar que nos arriscamos a outra conversa de surdos como no dia das caixas, antes de partires. Mas não quero perder nem um segundo dos teus relatos! Espero que te encontres ao encontrares mais um “bocadinho do mundo”.

Aqui o tempo não parou e é tão mais fácil quando posso ouvir a tua voz.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Rir ou Chorar, eis a questão! Bem-vindos à ambiguidade da minha vida!
O estágio já começou, meio dissimulado, meio formalizado, e cá estou eu espantada com a catadupa de desafios com que me deparo. “Mas eu não me sinto preparada!!” “Nem nunca se vai sentir”. Talvez. A verdade é que consigo ser eu em cada uma das pequeninas coisas que faço. Sinto que está ali alguém que confia e acredita e que deixa voar…. Era disso que estava a precisar.
E hoje, ironia do destino, recebemos o primeiro caso: tentativa de suicídio. Afinal não fugi assim tanto da minha paixão pseudo-intelectual. O medo está cá, mas a curiosidade (e a cuidadosidade) hão-de superá-lo.

quinta-feira, setembro 06, 2007









Conclusão da semana: os fotógrafos não podem ter filhos.
Nem sequer é bem não poder, é mesmo não dar jeito nenhum! A possibilidade existe e é real, mas se houver princípios de educação e acompanhamento do desenvolvimento dos catraios que impeçam o depósito, sistemático e prolongado, em casa de avós, tios, padrinhos, amas, colégios internos, torna-se praticamente impossível. Já nem falando das saídas do país que a coisa exige e o bichinho pede, qual alma errante em busca do aperfeiçoamento do olhar.
A experiência da última semana diz-me que biberões, fraldas, sonos, papas, choros e fichas de electricidade são altamente incompatíveis deambulações fotográficas, saídas em hora mágica e deslocações a lugares menos seguros. Aqui a “possibilidade” entra na eventualidade de se encontrar um cônjuge caseirinho e pouco fotográfico (que seria uma grande seca), o que no meu caso seria complicado, já que ele não teria os atributos maternais que alimentam os piquenos.
Eu gosto de ser prima, é verdade! É bom poder brincar com as miúdas e agarrar nelas para as devolver aos pais quando estão a chorar. Devo dizer também que dão óptimos modelos! No entanto, na última semana, abandonei as minhas funções em prol da fotografia e quase não dei conta. É uma incompatibilidade de prioridades muito grande. E isto lembra-me uma cena do Before Sunset (como não podia deixar de ser) em que a Celine diz que o seu namorado fotojornalista (que é um bacano porque nunca está em casa) fotografa pessoas aflitas antes de as ajudar. E eu compreendo isso. A busca do olhar é tão forte que acaba por nos separar de tudo o resto. A necessidade de captar a essência do momento implica fazê-lo durar, pelo menos enquanto não dermos o nosso melhor click. Observadores absorventes com apenas um olhar presente no mundo. Tudo o resto deixa de existir. O “momento decisivo” é a prioridade e a entrega é total.
Esta brilhante conclusão entronca com as dúvidas dos últimos tempos, acerca do será-que-estou-no-curso-certo? Ó dúvida cruel… Oh asas cortadas e futuro incerto…

terça-feira, setembro 04, 2007


Feliz Aniversário aos 2!
=)




Familias

É bom irmos sabendo, de quando em quando, que certas pessoas e famílias, que passaram na nossa vida, continuam a lutar pelos seus sonhos. O tempo e a distância podem tentar afastar-nos mas momentos como estes confirmam que valeu a pena conhecer tão interessantes pessoas.

keep on dreaming!

quinta-feira, agosto 23, 2007

A crise dos 30, aos 22….

Tem vindo a ser um tema recorrente. Sinto que já não tenho uma vida inteira pela frente. Hoje, num daqueles acasos bons, encontro alguém que partilha o mesmo estado de espírito. “Os de 80 já são todos maiores de idade”. “Os miúdos não sabem o que são carrinhos de rolamentos nem walkman’s!”. Por outro lado sabem muito bem o que é uma playstation e dominam mais a informática do que os próprios pais. Não que ache isso mau, é apenas outra forma de aprender o mundo, ainda que muitas vezes seja mais solitária do que jogar às escondidas no jardim ou futebol no campo improvisado do nosso bairro. Nós também não brincámos ao peão. É apenas uma mudança de formato. Mas faz-nos sentir velhos, da “old school” como dizias.

Vemos os miúdos, de 13, 14 anos, em grandes concertos e férias sozinhos, coisa inimaginável no nosso tempo. Mas se por um lado se parecem mais adultos, pelas permissões, roupas, cigarros no dedo e copos de cerveja na mão, por outro lado talvez não tenham brincado o suficiente, nem aprendido o necessário sobre a vida, já que ainda estão em maturação e daí resultam os comportamentos irresponsáveis que quase parecem contraditórios com a liberdade que possuem.

Já passámos essa fase.

Alguns de nós deixaram a escola e estão agora casados e com filhos. Outros para lá caminham, sem nunca terem saído muito do mesmo meio e dos velhos hábitos. Poucos de nós seguiram a vida académica. E até essa está a acabar. Estamos a correr para o mundo do trabalho sem ter tido o tempo suficiente para viver os tempos do traje negro, deixamos de ter os horários flexíveis que nos permitiam fugir da rotina, deixamos de ver aquelas mesmas pessoas no bar, todos os dias… Pode parecer cliché mas é verdade, o tempo não volta atrás. E é isso que neste momento me causa uma espécie de nostalgia por tudo o que foi e uma revolta por tudo o que podia ter sido. Continuo a achar que não vivi o suficiente e já levo algum atraso nas andanças da vida. Olho para a frente e vejo um nine-to-five job (na melhor das hipóteses), contas para pagar e pessoas para cuidar.

Tens razão querido Diogo, estes podem ser os melhores tempos da nossa vida e podemos não conseguir viver tudo o que queremos agora. E sim, as pessoas têm muito medo de parecer crianças, mas é tão bom ir ao toys’r’us e brincar com tudo aquilo que não tínhamos na nossa infância!

Pareço uma velha a falar, eu sei e ainda não cheguei aos 30! Mas sinto, cada vez mais, o tempo escorrer-me através dos dedos sem conseguir fazer tudo o que quero com ele.

Serei talvez uma day dreamer com mais sonhos do que vidas.

quarta-feira, agosto 22, 2007

domingo, agosto 19, 2007

Mais uma vez, deparo-me brutalmente com a efemeridade da vida… Hoje foi dia de visitar aqueles que já ouviram as fatais palavras de um médico: “Não há nada a fazer…”
Resignados nos seus últimos dias, recebem visitas que não podem dizer “as melhoras” ou “vai tudo correr bem!”. Encarno, de novo, o Homem Absurdo de Camus ou Raúl Brandão… O ridículo da morte…
Pensamentos que se cruzam com o meu caminho mental dos últimos dias…
Estas foram pessoas de luta e entrega… Viveram (desperdiçaram?) as suas vidas em nome de um ideal de sacrifício e privação, que os levaria um dia ao “Céu”. Dizem agora que isto é apenas uma passagem… De que vale existir durante 60, 70, 80 anos a esperar por algo que não se sabe se vem? Será que valeu a pena?

Toda a gente fala no céu, mas quantos passaram no mundo sem ter olhado o céu na sua profunda, na sua temerosa realidade? O nome basta-nos para lidar com ele. Nenhum de nós repara no que está por detrás de cada sílaba: afundamos as almas em restos, em palavras, em cinzas.” (pp. 18)

A morte é absurda, mas mais ainda é existir e penar, no único minuto que temos entre o nada e o nada. A haver um Céu, seriam dele merecedores os conformistas, apáticos em esperas vãs, numa vida de causalidades atribuídas a entidades exteriores? A haver um Céu, quais seriam os critérios? Inertes ou lutadores?

“Que outra coisa fizeste na vida senão esperar a morte?” (pp.41)

“Então para que nasci? Para ver isto e nunca mais ver isto? Para adivinhar um sonho maior e nunca mais sonhar? Para pressentir o mistério e não desvendar o mistério?” (pp.41)

Antes, estas e outras palavras derrotistas e absurdas, retiradas do meu fiel Húmus, livro de cabeceira, ao qual faltam ler 10 páginas desde há 3, 4 anos, faziam-me todo o sentido. Com o tempo fui aprendendo a roubar vida a esta existência efémera e hoje não me consigo ver de outra forma. Agora eu deixei de ser Raúl Brandão para ser o Gabiru e acreditar no sonho.

Ultimamente tenho pensado (é mais um “sonhar acordado” do que outra coisa) na minha vida daqui a um ano. Emprego, independência financeira, finalmente um substrato para as minhas viagens, para a fotografia, para tudo o que hoje não posso fazer, apesar de até ter tempo. Yaris passaria a ser meu e não teria tantas limitações espaciais. Era mais uma vez a estrada a chamar-me. Mais uma vez a realidade acorda-me para me lembrar das células manhosas, das velhices, das incapacidades e da minha condição de “bombeira” solitária.

Hoje revolto-me por várias razões. Pelo absurdo da morte. Pelo absurdo da morte anunciada para quem não fez outra coisa na vida que não esperar o que vem depois da morte. Pelo absurdo da morte para quem ainda não acabou tudo o que queria fazer nesta vida. Revolto-me mais ainda por não ser a morte a única a levar-nos os sonhos. Não quero ficar parada. Não caibo nestas quatro paredes, preciso de partir… E quando mais me aproximo do cume da montanha das possibilidades, mais me puxam os pés em direcção ao vale.

“É tudo tão fugaz e tão breve”. Ouço e ouço e sei que tenho que arrancar madrugadas e gargalhadas mas não consigo acreditar que nem tudo o que nos ata nos pode prender… Tento, cada vez mais, lutar contra esta efemeridade e não fazer demasiados planos nem embarcar em princípios e promessas vazias. Naqueles breves segundos antes de tudo acabar, quero saber e sentir que agi sempre consoante aquilo que era verdade para mim. Talvez por isso as árvores hoje pareciam mais verdes e o rio mais brilhante. Estou farta de perder tempo em adiamentos!! Estou farta de viver na mediania em todos os sentidos (excepto talvez o intelectual que é onde ainda consigo ir mais longe)! Quero partir!! Será que algum dia terei a possibilidade de fazer aquilo que preciso para ser uma pessoa realizada? (Ou pelo menos mais perto da realização, para não estabelecer objectivos não plausíveis.). Sei o que quero, mas será que a vida sabe? E porque é que não me deixa? Antes contava os anos que me faltavam até angariar os fundos necessários. Agora já nem olhar para o calendário me conforta e sinto-me, cada vez mais, a sufocar.

Acima de tudo, quero viver para evitar a imagem que me ocorre constantemente: velhinha enrrugada, a definhar numa cama, ao lado de alguém que não foi O grande amor, a recordar as viagem que queria ter feito, as pessoas que gostava de ter conhecido, os trabalhos que gostava de ter tido, a pessoa que gostava de ter sido.

será?

quinta-feira, agosto 16, 2007

O calor solitário de uma casa que dorme. Corpos espalhados, quietos, adormecidos, escondidos do sol que já ia alto. Aquela vontade de encontrar um lugar que sinta meu e que não se encontra verdadeiramente sob os efeitos alucinogénios das luzes e sons. Agarro na primeira câmara que encontro na mesa e saio em direcção às falésias. E os meus pés de chinelo movem-se pelos grandes arenitos, através dos arbustos de camarinhas e os sedimentos férreos que se soltavam arriba abaixo. Acompanhada pelos gritos das gaivotas e os sons ténues das ondas que rebentavam nos penhascos, a minha voz tomava forma, sem que a conseguisse parar….
I don't know why
But I cant seem to find the right melody today
I can't make the words fit how I feel
A meio desta caminhada quase mística, apercebo-me mais uma vez de que “tudo é como deve ser”, tal como a Noite na Selva Aguaruna. Tudo está no seu lugar, num equilíbrio imperturbável. Sinto-me mais uma vez lisonjeada por poder assistir ao espectáculo da natureza. À imponência das encostas escarpadas, aos voos acrobáticos das gaivotas barrigudas, às flores selvagens ondulando ao vento.

I woke up from the strangest dream
With a dancing dog and a beauty queen
They said nothing, nada, niente
I'm empty

Viagens no tempo que não consigo evitar e que me fazem sentir um pouco mais a pertença a este mundo. Não assumo todas as culpas por esta fuga. Há algo que me continua a empurrar na busca do meu lugar. Este é mais um que fica tatuado na minha alma desenraizada e meio vazia. “Para onde caminhamos nós? Sempre para casa!” (Novalis).
Apercebo-me que já passou muito tempo e regresso pelo mesmo caminho, embora os passos comecem a apressar-se à medida que vou caminhando. Abro a porta. A casa já tinha acordado e assustam-se os rostos com a minha chegada sem saída anunciada. Segue-se um dia de praia, risotas, parvoíces, álcool, luzes, canções, corpos dançantes e um sono sem sonhos, que me fazem esquecer, momentaneamente, a procura e o vazio.


Voltamos todos à falésia, numa caminhada em que me desprendo das conversas e me perco numa nova contemplação. O regresso à realidade faz-se num lanche entre arbustos e escarpas, em toalhas empoeiradas que servem de cama à sesta vespertina.




Perdidos em olhares, gargalhadas e muita, muita partilha, fugimos do mundo quotidiano das nossas, mais ou menos, preenchidas vidas. E como é bom acordar assim para dias totalmente feitos por nós e para nós, dias que só acabam no dia seguinte, tendo o pôr-do-sol a marcar o meio das horas.



Regresso e parece que o tempo não passou. Tudo aqui está na mesma. As saudades nossas são muitas. Valeu a pena.



(Música by Skye Edwards; último pds, By Ema)

quarta-feira, agosto 15, 2007

Não poderia deixar passar a referência ao centenário do nascimento do grande Miguel Torga que continua a fazer-me companhia em noites de palavras que não se consequem escrever...
Ciganos
Tudo o que voa é ave.
Desta janela aberta
A pena que se eleva é mais suave
E a folha que plana é mais liberta.
Nos seus braços azuis o céu aquece
Todo o alado movimento.
É no chão que arrefece
O que não pode andar no firmamento.
Outro levante, pois, ciganos!
Outra tenda sem pátria mais além!
Desumanos
São os sonhos, também...
Começo
Magoei os pés no chão onde nasci.
Cilícios de raivosa hostilidade
Abriram golpes na fragilidade
De criatura
Que não pude deixar de ser um dia.
Com lágrimas de pasmo e de amargura
Paguei à terra o pão que lhe pedia.
Comprei a consciência de que sou
Homem de trocas com a natureza.
Fera sentada à mesa
Depois de ter escoado o coração
Na incerteza
De comer o suor que semeou,
Varejou,
E, dobrada de lírica tristeza,
Carregou.
Sísifo
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

sexta-feira, agosto 10, 2007


Hoje encontrei uma menina na praia. Dois elásticos coloridos prendiam um cabelo encaracolado por debaixo de um chapéu de ganga. Vinha do mar, trazendo consigo dois baldes de água, areia e conchinhas. Chorava dizendo que a mãe se tinha ido embora. Caminhava pesadamente entre as pessoas, de olhar vago perdido nas lágrimas que lhe escorriam pela face. Ao chegar perto da minha toalha, deixava já um rasto de olhares fixos na sua dor, olhares que eram disfarçados com um grito vago atirado ao filho ou um sacudir desatento de toalha. Afinal, a praia estava cheia de gente, “alguém há-de ajudar”.

Aproximei-me dela e mal lhe conseguia perceber o nome pelo meio das palavras soluçadas: “eles foram embora!”. Interessante como o sentimento de estar sozinho leva à percepção de abandono imediato e intencional. Rapidamente o desespero se converteu em angústia e a angústia em apatia. Já dificilmente lhe arrancávamos a cor do chapéu ou um ponto de referência. Caminhava de olhos pousados no chão como se tivesse desistido de procurar. Encorajamo-la a olhar em volta e, pouco depois, começa a caminhar numa direcção diferente, em silêncio, como se tivesse encontrado algo que já não esperava. Parou perto de algumas pessoas que pareceram não notar a sua presença. O meu olhar inquisidor denunciou a situação: “Ah estás aqui. A tua mãe estava à tua procura”. Fixa em nós o seu olhar vazio. Dizemos-lhe que vá. Despedimo-nos, tentando contagiar-lhe um sorriso. Vai!

quinta-feira, agosto 09, 2007


Perdermo-nos não é mais do que chegar a um lugar que não aquele que planeámos.

Aprendo isso muitas vezes e parece que existe uma tendência a ir esquecendo.

Passei os últimos dias irritada por terem estragado planos conjuntos de férias, decididos desde o ano passado. Abdiquei de maiores e mais ricos destinos, num espírito mais familiar, mas nem assim menos interessante, apenas por aquela semaninha que era só nossa, “de pés descalços e unhas pintadas”, com torta de chocolate como pequeno-almoço. A sensação não caber nestas quatro paredes caiu em mim como chumbo. Seria demasiado tempo aqui do que aquele que ia conseguir suportar. É estranho quando a nossa casa não corresponde ao lugar onde nos sentimos em casa.

Mais uma vez foi apenas uma situação que conduziu à possibilidade de abrir outra porta. Pondero prós e contras e salta sempre mais alto a ideia de partilhar dias com pessoas novas, algumas desconhecidas, e de poder redescobrir um lugar que me fascinou, há duas semanas atrás, por minha conta.

Este será, supostamente, o meu último ano de férias de dois meses. Já só falta um. O que quero eu fazer com estes dias? Mais do que o tédio de aqui estar me permite.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Poucos lugares há em que me consiga sentir em casa. Os que vou encontrando vão ficando tatuados na minha pele, revisitados de tempos a tempos sem que a frequência banalize os encantos. A Quinta da Regaleira tem a força e imponência da Serra de Sintra e uma atmosfera mística que nos empurra para o que de mais profundo existe em nós. De cada vez que me passeio pelos seus jardins, túneis, salões ou poços, encontro sempre algo de diferente.

Desta vez surpreendeu-me uma porta que antes se encontrava selada.

Apesar de se encontrar no primeiro piso, eu sabia que aquela entrada me ia levar à torre. Um arrepio percorreu-me a espinha: é hoje! Mas não deixei que as pressas perturbassem a minha visão e demorei-me na escadaria. Subi e cada sala representa uma parte da essência da Quinta em tons escuros, um pouco desconfortáveis até, como se os próprios visitantes estivessem a fazer a sua viagem iniciática. Eu senti-me, mais uma vez, a iniciar-me na Regaleira.

É bom saber que existem lugares como este e que há pessoas que se preocupam em mostrá-los ao mundo em todo o seu esplendor, quer pela manutenção dos jardins e dos acessos, quer pelo restauro do Palácio e organização da exposição nos tons da essência do lugar.

Regaleira…
revisited





















domingo, agosto 05, 2007

Escuro e Luar

Feitos de chão, de chuva e sonho

Fora do tempo
Despedaçado
o que fica de nós
Nas batalhas sentidas cá dentro
Por isso é que eu sigo esse brilho da noite
Que é estrela ou chama
Olhar ou mar
E vou procurar essa luz
Mas só quero lá chegar contigo

Feitos de tempo em mil pedaços
De escuro e luar
Há uma noite que é escolhida pra ser
Essa noite que se há-de guardar
Por isso é que eu sigo esse brilho ou calor
Que é estrela ou chama
Ou tu em mim
E vou pra poder descobrir
Quem é que ainda sou contigo

Dispo o cansaço e recomeço
Mais uma vez
Há um sorriso que nos salva do frio
E recolhe o que a vida desfez
Se me desarmo noutro feitiço
Num outro olhar
Há um abrigo que não deixa morrer
Quem nós somos e o que temos pra dar
Por isso é que eu sigo esse brilho da noite
Que és tu em mim
Ou quem eu fui
E vou pra poder descobrir

Quem é que ainda sou contigo

Mafalda Veiga

Reencontro as minhas canções, aquelas intemporais que fazem companhia quando a noite se instala pesadamente sobre mim e o sono me falta. Não sei de onde vêm mas nas últimas horas têm germinado em mim ideias e ideais de vida que remetem para qualquer lugar longe daqui, ainda que outras insistam num olhar diferente sobre o que já conheço. Os meus passos traem-me ao tomar consciência da origem dessas ideias e muitas vezes penso que assim não fazem sentido porque não nasceram só de mim e não podem ser levadas a cabo só por mim… Por outro lado, apetece-me sair e colocá-las, a todas, em prática, para poder dizer “eu consegui”, “eu não tive medo”, qual menina rebelde que foge de casa sem deixar carta. A procura recomeçou, catapultada pelos acontecimentos dos últimos dias, pelas pessoas que me continuam a empurrar, pelo Camus que já chama por mim para que lhe leia A Peste. Não sei até onde vou conseguir ir, não sei sequer se vou sair do mesmo lugar, não vou certamente trair memórias que não são só minhas e que escondem o vazio na minha alma, mas sei que vou continuar a fazer o que me apetece porque só assim será verdade em mim. Receio e nego uma camuflagem daquilo que esperava vir a viver neste momento, quero acreditar que é real e não de vai desvanecer, como tantas outras coisas, ao nascer-do-sol.

“Por isso é que eu sigo esse brilho da noite” sem saber ainda onde isso me vai levar…

sexta-feira, agosto 03, 2007

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

[...]

Adeus.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, julho 19, 2007

…4ª, 5ª e as curvas são contornadas perfeitamente sem esperar obstáculos no caminho. A música grita e os meus pés e mãos seguem o seu ritmo. E se largar o volante agora? Morte imediata. E depois? Centro-me na possível sensação de ser atirada contra uma parede a tal velocidade. Pisco os olhos. Tenho sono mas os meus sentidos estão inconscientemente aguçados. A noite. Sinto-me a ser sugada, qual buraco negro, para um caminho q não é o que preciso de tomar para chegar a casa. Mas onde fica realmente o sítio onde me sinto em casa? E o leve nevoeiro cobre o quarto crescente no horizonte e o palácio de luzes calmas. A sensação de liberdade é inevitável mas não total. Falta qualquer coisa… Tenho ainda uma corda por tirar. Com maior ou menor penar é para a liberdade que caminho. O ar quente e húmido da noite mostra-me uma praia escura de rochedos proeminentes e lendas antigas… O medo. O medo. E nego os meus instintos seguindo para o conforto da minha habitação. Inspiro fundo a magia da noite…

“E porque a noite nos atrai sempre e os nossos passos caminham sempre em direcção a ela (…)”

…e fujo, procurando uma cama para dormir ou um livro para me distrair em vez de enfrentar, no contexto apropriado, a possível realidade do futuro. A peça que faltava foi encontrada e no entanto o vazio do seu lugar mantém-se. Será possível agarrar a areia sem a fazer fugir por entre os dedos? Livre mas acorrentada pela dúvida num nó apertado pelo medo. Perder, perder… E a noite continua lá fora, a coruja pia e a vontade de correr para aquela praia mantém-se. Mas o sono também bateu à porta depois de um dia preenchido propositadamente por tudo quanto canse o corpo. Há coisas por fazer mas não importa. Fica o medo, a incerteza, a saudade e aquela liberdade que só a noite dá.

Quem será que canta esta música? Gosto.

terça-feira, julho 17, 2007

Preciso…

De pés descalços e unhas pintadas
De acordar sem sonhos e adormecer a meio de conversas
De ver pessoas novas e falar com desconhecidos
De sair sem casaco, ainda que esteja frio
De fotografar pegadas na praia e pessoas nas ruelas
De ouvir os gritos histéricos das gaivotas ao pôr-do-sol
De ser clandestina numa cidade diferente
De ver o sol nascer antes de voltar para casa…


Quero…

Comer torta de chocolate como pequeno-almoço
Sentir os ritmos das ruas e dançar como quem anda
Partilhar dias consecutivos com aqueles que me fazem sorrir
Deambular pela cozinha entre o calor e os aromas
Acordar alguém com gritos e flashes
Nadar nas límpidas e calmas águas, desejando que houvesse ondas
Ser a Ema de engenharia ambiental, por uma noite
Ver os artistas de rua e adivinhar o se esconde por detrás das máscaras…

Preciso de me sentir livre no mundo…
Quero voltar àquele tempo só nosso…

Saudades muitas.

"...e pintar com quantas cores o vento tem..."

domingo, julho 15, 2007

"A centopeia era feliz, e muito,
Até que um sapo, gozador,
Perguntou: "por favor, qual perna vai à frente?".
Isso confundiu-a tanto
que, distraida, afogou-se num tanque,
Atrapalhada, pensando em como andava."


(In, Steve de Shazer, terapia familiar breve)

sábado, julho 14, 2007

Gomas medievais e luas de madeira, ruas estreitas e escadarias cúmplices, poemas que voam e músicas que caem. A noite. E tropeço em ti a cada passo do meu caminho, entre o que foi e o que poderia ser, açúcar e ritmo em deambulações solitárias, como se a minha própria sombra tivesse partido. O paradoxo de prender os pés naquilo que não está, como se a complementaridade fosse prova de existência efectiva. E esta sensação de igual-para-igual faz com que tudo nasça naturalmente, permitindo ser plenamente sem quandos nem porquês até que outro sol nasça. Mas não agora, e corro para o sol da madrugada que cega o monstro que vive na minha barriga com a promessa de um dia cheio de tudo o que não seja teu. Promessas… Tu és tudo e já não consigo ser sem te ser a ti, tão intricada está a tua vida na minha. E recordar os momentos em que deixei de ter medo de mim e do mundo em lugares meus, embora já não exclusivos, onde posso ser, verdadeira e naturalmente, Eu. Percebo agora que esse Eu não me pertence e não se confina à minha essência. Também ela foi contaminada, expandindo-se muito para além dos meus limites físicos, sincrónicos e diacrónicos. Eu já não sou só eu, mas um conjunto de momentos, lugares e pessoas onde tu te passeias constantemente para me lembrares de quem sou. É um sentir-te aqui sem estares, como se fosse uma sombra que vemos mas não podemos tocar. E recordar-te Tu, absorvendo ambientes, partilhando olhares e canções, em lugares impregnados de qualquer coisa, entre um tu e um eu, que não sei descrever, num estado aparentemente presente e despreocupado, como se o amanhã não existisse e o resto do mundo fosse uma ilusão. “Uma pena azul?” …é possível…
A distância voluntariamente forçada dói com dúvida e saudade, mas mais ainda por separar a magia da realidade, quando estas se definem uma a partir da outra...