sábado, julho 14, 2007

Gomas medievais e luas de madeira, ruas estreitas e escadarias cúmplices, poemas que voam e músicas que caem. A noite. E tropeço em ti a cada passo do meu caminho, entre o que foi e o que poderia ser, açúcar e ritmo em deambulações solitárias, como se a minha própria sombra tivesse partido. O paradoxo de prender os pés naquilo que não está, como se a complementaridade fosse prova de existência efectiva. E esta sensação de igual-para-igual faz com que tudo nasça naturalmente, permitindo ser plenamente sem quandos nem porquês até que outro sol nasça. Mas não agora, e corro para o sol da madrugada que cega o monstro que vive na minha barriga com a promessa de um dia cheio de tudo o que não seja teu. Promessas… Tu és tudo e já não consigo ser sem te ser a ti, tão intricada está a tua vida na minha. E recordar os momentos em que deixei de ter medo de mim e do mundo em lugares meus, embora já não exclusivos, onde posso ser, verdadeira e naturalmente, Eu. Percebo agora que esse Eu não me pertence e não se confina à minha essência. Também ela foi contaminada, expandindo-se muito para além dos meus limites físicos, sincrónicos e diacrónicos. Eu já não sou só eu, mas um conjunto de momentos, lugares e pessoas onde tu te passeias constantemente para me lembrares de quem sou. É um sentir-te aqui sem estares, como se fosse uma sombra que vemos mas não podemos tocar. E recordar-te Tu, absorvendo ambientes, partilhando olhares e canções, em lugares impregnados de qualquer coisa, entre um tu e um eu, que não sei descrever, num estado aparentemente presente e despreocupado, como se o amanhã não existisse e o resto do mundo fosse uma ilusão. “Uma pena azul?” …é possível…
A distância voluntariamente forçada dói com dúvida e saudade, mas mais ainda por separar a magia da realidade, quando estas se definem uma a partir da outra...


1 comentário:

Vana disse...

A distância que a proximidade nos obrigar a impor a nós proprios... Não seria distância se não tivesse outrora existido a proximidade. Estranhamente continuamos a partilhar ou, simplesmente, a dar, embora saibamos que, quase sempre, é apenas uma promessa incumprida. Nos somos uma promessa incumprida. O "Nós" já não existe e talvez nunca tenha existido. Mas continuamos a acreditar na proximidade e na comunhão. Bem, talvez alguns de nós tenham desistido de acreditar...

(Desculpa intrometer-me assim. O q escrevi n tem nada a ver com o q querias transmitir mas, apropriando-me do q era teu, apeteceu-me dizer isto....)
Bj*