sexta-feira, agosto 10, 2007


Hoje encontrei uma menina na praia. Dois elásticos coloridos prendiam um cabelo encaracolado por debaixo de um chapéu de ganga. Vinha do mar, trazendo consigo dois baldes de água, areia e conchinhas. Chorava dizendo que a mãe se tinha ido embora. Caminhava pesadamente entre as pessoas, de olhar vago perdido nas lágrimas que lhe escorriam pela face. Ao chegar perto da minha toalha, deixava já um rasto de olhares fixos na sua dor, olhares que eram disfarçados com um grito vago atirado ao filho ou um sacudir desatento de toalha. Afinal, a praia estava cheia de gente, “alguém há-de ajudar”.

Aproximei-me dela e mal lhe conseguia perceber o nome pelo meio das palavras soluçadas: “eles foram embora!”. Interessante como o sentimento de estar sozinho leva à percepção de abandono imediato e intencional. Rapidamente o desespero se converteu em angústia e a angústia em apatia. Já dificilmente lhe arrancávamos a cor do chapéu ou um ponto de referência. Caminhava de olhos pousados no chão como se tivesse desistido de procurar. Encorajamo-la a olhar em volta e, pouco depois, começa a caminhar numa direcção diferente, em silêncio, como se tivesse encontrado algo que já não esperava. Parou perto de algumas pessoas que pareceram não notar a sua presença. O meu olhar inquisidor denunciou a situação: “Ah estás aqui. A tua mãe estava à tua procura”. Fixa em nós o seu olhar vazio. Dizemos-lhe que vá. Despedimo-nos, tentando contagiar-lhe um sorriso. Vai!

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