quinta-feira, setembro 11, 2008

Desde quando é que é suposto sentirmo-nos culpados por viver as nossas vidas?
Tendo já em consideração que temos que respeitar os outros e as suas várias formas de integridade física e psicológica, onde começa a liberdade humana?

Alguém disse uma vez:

“Agradeço aos meus pais terem sabido tomar conta do meu corpo. […]
Os pais […] transmitem apenas a cegueira necessária à sobrevivência diária.”
*

Já muitas pessoas se chocaram com a repetição desta ideia, mas ela continua escrita no meu quadro de cortiça e cada vez mais presente na minha vida.
É verdade que temos responsabilidades para com as pessoas que já cuidaram de nós e que de certa forma continuam a pagar as contas da casa, mas quando essa responsabilidade nos é arremessada sob a forma de chantagem emocional em prol de um alegado “abandono” que apenas quer dizer “crescer”, começa decididamente a interferir com a liberdade humana.
O meu eu mais profundo estaria neste momento em alguma parte do mundo a investir em formação com os melhores, ou a fazer uma reportagem fotográfica para uma grande agência. Ligaria todos os dias para “casa”, claro, estaria presente quando necessário, mas passaria os dias a aprender ao sabor das oportunidades e do meu mais elevado sentido de verdade.
Tenho lutado contra esta necessidade durante anos, ou pelo menos tentando encontrar-me nos pequenos desafios da vida que vou tentando (que me deixam tentar? Que deixo que me deixem tentar?). Procuro um meio termo que me permita estar por perto e apoiar quase constantemente os que tomaram conta de mim, ou pelo menos “do meu corpo”.
Quando começo já a pensar que, perto da morte, me vou arrepender de não ter vivido a minha vida, pedem-me ainda mais cedências através de caprichos. E eu, com medo da culpa, cedo. E vou-me sentido cada vez mais um não-eu, com, paradoxalmente, cada vez mais culpa.


E quando a culpa por ter cedido e dado mais um passo atrás no caminho é superior à culpa de dizer “não”?!


E hoje, agora, o meu lugar não é aqui, não a escrever estes textos decadentes nem a chorar por culpa da culpa, quase culpando-me de querer ser eu. O meu lugar neste momento seria naquela curva quentinha, onde posso ser tudo e continuar a crescer.


Mas acredito que um dia me consiga sentir plenamente “em casa”.



* In Lições do Abismo, Daniel Sampaio

2 comentários:

Bxana disse...

O que acabas de descever faz-me lembrar os tempos de escravatura, em que a pessoa pertencia a outra, como dado adquirido.

As asas cresceram para que pudessemos voar, só os pinguins não voam, e não voam porque não há muito para ver no ártico, é tudo branco e cinzento, que há para ver?

Nós temos o verde, o castanho, o azul, o vermelho à nossa volta, temos de abrir as asas e voar, porque foi para isso que crescemos. Sei como custa e como é quase (quase?) uma dor física, mas não é isso que é crescer? Dor, sofrimento, e finalmente, esplendor?=)

Fica bem, miúda!;)
Beijinhos da Bxana

Verkai disse...

Não deves ficar triste por ceder, aliás fazes aquilo que os filhos tendem a fazer nas primeiras tentativas de fuga. Akeles k te prendem é k deveriam estar tristes por não te deixarem partir. Afinal de contas eles tb não tiveram a necessidade de explorar novos mundos? Claro que tiveram, e foi a melhor altura da vida deles.

Enfim, onde é k eu já vi isso. Anda alguém a tentar pescar por ti em vez de te ensinar a pescar? não deixes, pois isso é egoismo.
Mas não te preocupes, o aluno sempre supera o mestre.

Beijinho Grande