quarta-feira, setembro 24, 2008

The unforgiven iii

no próximo ano espero ouvir esta contigo Cx/' *

quinta-feira, setembro 11, 2008

Desde quando é que é suposto sentirmo-nos culpados por viver as nossas vidas?
Tendo já em consideração que temos que respeitar os outros e as suas várias formas de integridade física e psicológica, onde começa a liberdade humana?

Alguém disse uma vez:

“Agradeço aos meus pais terem sabido tomar conta do meu corpo. […]
Os pais […] transmitem apenas a cegueira necessária à sobrevivência diária.”
*

Já muitas pessoas se chocaram com a repetição desta ideia, mas ela continua escrita no meu quadro de cortiça e cada vez mais presente na minha vida.
É verdade que temos responsabilidades para com as pessoas que já cuidaram de nós e que de certa forma continuam a pagar as contas da casa, mas quando essa responsabilidade nos é arremessada sob a forma de chantagem emocional em prol de um alegado “abandono” que apenas quer dizer “crescer”, começa decididamente a interferir com a liberdade humana.
O meu eu mais profundo estaria neste momento em alguma parte do mundo a investir em formação com os melhores, ou a fazer uma reportagem fotográfica para uma grande agência. Ligaria todos os dias para “casa”, claro, estaria presente quando necessário, mas passaria os dias a aprender ao sabor das oportunidades e do meu mais elevado sentido de verdade.
Tenho lutado contra esta necessidade durante anos, ou pelo menos tentando encontrar-me nos pequenos desafios da vida que vou tentando (que me deixam tentar? Que deixo que me deixem tentar?). Procuro um meio termo que me permita estar por perto e apoiar quase constantemente os que tomaram conta de mim, ou pelo menos “do meu corpo”.
Quando começo já a pensar que, perto da morte, me vou arrepender de não ter vivido a minha vida, pedem-me ainda mais cedências através de caprichos. E eu, com medo da culpa, cedo. E vou-me sentido cada vez mais um não-eu, com, paradoxalmente, cada vez mais culpa.


E quando a culpa por ter cedido e dado mais um passo atrás no caminho é superior à culpa de dizer “não”?!


E hoje, agora, o meu lugar não é aqui, não a escrever estes textos decadentes nem a chorar por culpa da culpa, quase culpando-me de querer ser eu. O meu lugar neste momento seria naquela curva quentinha, onde posso ser tudo e continuar a crescer.


Mas acredito que um dia me consiga sentir plenamente “em casa”.



* In Lições do Abismo, Daniel Sampaio

quinta-feira, setembro 04, 2008

Ouço a coruja no pinhal lá fora, companheira de tantas noites de escrita e decadência. Mas não hoje. Sempre renovadora, a escuridão traz um melhor fado desta vez. Voltar a ver-te, a ouvir a tua voz, a esconder-me na curva do teu pescoço.

Já disse aqui que todos os sentimentos místicos implicam a anulação do eu. Quem me conhece sabe que faço os possíveis e impossíveis para manter a minha individualidade em todas as situações. Então de onde vem este paradoxo da minha existência não fazer sentido sem ti? Admiti. Pronto. Pára de me torturar, consciência severa!

O par tem três partes como dizia a Satir: eu, tu e nós. E se há momentos em que o nós prevalece, porque não? Desde que as outras partes continuem a fazer crescer o eu e o tu!
Já me justifiquei o suficiente… A verdade, a essência daquilo que eu sinto, é que o eu que construí precisa daquele nível de partilha que conseguimos atingir. Precisa das noites de quarto minguante e pores-de-sol com banda sonora privilegiada. As minhas ideias estão fragmentas por falta de quem as complete. Afinal, não tínhamos já descoberto há muito tempo atrás que edificámos uma “mente sistémica”?!

E os medos?! De não ser capaz, de me prender, de cair no ridículo… Também eles me estão a abandonar a poder de uma força maior. Esta é uma batalha que enfrento todos os dias, e cada segundo vale a pena.
E um ano mais tarde. Muitos anos mais tarde. Cá estamos nós de novo.


Nunca mais é amanhã.


Cx/' *