quinta-feira, agosto 17, 2006

Vou continuar a pôr por palavras os fragmentos mais marcantes destas férias Norte&Sul...

Continuando no Norte...

Bolas, como eu desejei um papel e uma caneta.... Porque é que quando vamos de férias deixamos estes objectos para trás, como se nos recordássem, penosamente, o trabalho dos outros dias do ano?! (Por causa disso, ontem alguém teve que anotar números de telefone com uma pedra...)
Nessa noite, a minha última noite no Norte, quando já me dirigia para casa, (prontinha para me atirar para a cama e dormir até à madrugada seguinte, altura em que apanharia o comboio e faria uma viagem até ao Algarve) ouvi uma música... Não era "Pimba" como se poderia esperar estando naquela aldeia, e também não tinha sido anunciado nenhum concerto... Gostei de ouvir, ao longe, mesmo sem conhecer a dita canção... Fui perseguindo o som, com a pressa de chegar à sua fonte sem perder mais nada... Era uma rapariga, um órgão, um rapaz e uma guitarra, uma bateria sem ter quem a tocásse, um candeeiro de sala, algumas pessoas sentadas à volta... Rui Veloso, uns originais, Lúcia Moniz, Mafalda Veiga...
A dada altura já tinha a minha priminha ao colo, agarrada ao meu pescoço e dançando ao som da música...

"Geme o restolho triste e solitário...."

Comecei a cantar, já com os olhos a encherem-se de água e a vontade enorme de gritar aquelas palavras... Contive-me ao ouvir um sussurro no meu ouvido... A minha prima estava a murmurar a canção que nem eu sabia que ela conhecia... Ficámos as duas a cantar e a dançar, abraçadas sob aquele céu azulão polvilhado de pontinhos amarelos cintilantes... Nem a propósito, passa uma estrela cadente...

"...a embalar a noite escura e fria..."

Esta música já atravessou várias fases da minha vida... Já esteve relacionada com várias pessoas... É sempre pior quando alguma coisa é simbolica para nós porque a associamos com alguém...
Quando já ia para casa, não querendo saber se dali a umas horas teria de estar a pé e de malas feitas, só me apetecia escrever porque me lembrei dum comentário aqui do blog no qual qlguém dizia: "as pessoas recusam-se a revisitar sitios, pessoas ou acontecimentos (fisicamente) que as marcaram por tão bons que foram, têm medo que numa segunda vez o momento não seja tão mágico." ... O que é certo é que não podemos preservar músicas e lugares como se fossem um souvenir que se guarda numa caixa trancada e não pode ser vandalizado. Há coisas que têm que ser revividas, noutras circunstâncias, ainda que queiramos manter memórias intactas! Isso não tem nada de mal! Senti menos a magia nesta noite, em que tinha a minha prima colada ao meu pescoço a cantar a minha canção, do que na noite em que eu e os meus melhores amigos gritámos o Restolho ao som da própria Mafalda?! Não me parece... Alguma memória ficou vandalizada!? Nunca...

"...E a perder-se no olhar da ventania..."

Será que era isto que teria escrito se há 2 semanas tivesse lá tido o papelinho e a caneta?! Talvez não... Talvez tivesse ficado muito mais forte... Mas ficou a necessidade de escrever que acabo agora de consumar...

A esta memória acrescentei ainda os vestigios de uma conversa de ontem sobre o: "teria sido melhor se tivesse um ombro...." O romantismo do ser humano faz-nos sempre querer companhia na esperança de realçar a beleza dos momentos que vivemos... Pura Ilusão... Não será que quando contemplamos sozinhos, a sensação é mais pura?! É sempre contaminada com o estado de espirito, espectativas, pensamentos, mas... Quando estamos com amigos as coisas parecem mais superficeis e engraçadas e quando estamos com um"A" pessoa está tudo lindo, os passarinhos cantam, Nirvana, Zen... Um dia, aquilo que sentimos sobre ess"A" pessoa muda e já não sabemos se todos esses "lugares" e "momentos" eram mesmos como os vislumbrámos, ou se teriam sido diferentes de outra forma... Depois não sabemos muito bem se os havemos de preservar (como alguém dizia: "Não te levo a lugares onde já tenha estado com outra pessoa!" Será isto possível?) ou se questionar o que vivemos e talvez "revisitar"...
Aqui faz sentido a ideia, já muito banalizada, de que não podemos conhecer a realidade em si, apenas a representação que fazemos dela... E essa representação pode mudar TANTO em circunstâncias diferentes...


Somos uns deturpadores com a necessidade constante de meter magia em tudo...


...Outra canção dessa noite me ficou no ouvido...

"MALDITO SEJAS!"

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