domingo, maio 20, 2007

“- (...) Poderei talvez dizer que procuras demasiado, que enquanto procurares nunca conseguirás encontrar.
- Como assim? – perguntou Govinda.
- Quando alguém procura – respondeu Siddhartha – pode acontecer que os seus olhos vejam apenas a coisa que ele procura, que não permitam que ele a encontre porque ele pensa sempre e apenas naquilo que procura, porque ele tem um objectivo, porque está possuído por esse objectivo. Procurar significa ter um objectivo. Mas encontrar significa ser livre, manter-se aberto, não ter objectivos. Tu, Venerável, és talvez um homem à procura, pois, perseguindo o teu objectivo, muitas vezes não vês aquilo que está perante os teus olhos.”


In Siddhartha, Herman Hesse

Procurar, Procurar, Procurar…
Em vez de caminhar para uma decisão informada só tropeço em dúvidas… cada vez mais dúvidas…
É difícil escolher a nossa vida para o próximo ano, ainda mais quando há vulcões por perto que não sei quando poderão entrar em erupção nem os estragos que vão fazer.
Até o meu grande sonho de ir trabalhar inicial se está a assombrar de fantasmas que começam agora a ganhar forma. Porque esta semana me chamaram numa aula “Ana, Ana, para onde vais?” e eu percebi, naquele momento, que tinha medo e que não o queria admitir. E porque, no dia seguinte, me perguntaram se esse medo era dos “Senhores grandes”… E era-o de facto… Ler é estar perto, quase tão próximo que me parece que posso saber os pensamentos dos autores… Estar na sua presença imponente é outra história…
E autonomia para ser eu e criar!?
Segundo as pessoas que interessam, a pergunta é: “O que tenho eu para oferecer de novo a esta instituição?”… Mas eu tenho perguntado: “O que me deixam fazer de novo nesta instituição?!”
Sou pequenina mas sei que com boas indicações posso voar alto. Não quero fazer mais do mesmo, não quero viver by the book, não quero o relatório do ano passado…
E no entanto sei que posso ter todo esse céu para voar mas sem sair de onde estou… Espaço suficiente, asas cortadas…


Hoje escrevo para me organizar, para monitorizar o meu processo de escolha, pois os próximos dias trazem mais toneladas de informação que posso não conseguir assimilar…

Porque é que tem que ser tudo ou nada!?
Escolher é tão difícil…
Mais ainda quando sempre soube o que queria… achava eu…

2 comentários:

Cinzento Neutro disse...

Não me interessa perguntar o que me deixam fazer, mas sim acreditar...construir, fazer. Aproveitar a força da minha juventude de forma inquieta, mas consciente. Quero na mesma saber dos riscos e deixar para depois as possíveis desilusões, dar tempo ao tempo, dar uma hipótese ao tempo. Dar-me tempo para crescer enquanto vivo e, enquanto vou vivendo, quero ir aprendendo e experimentando... quero poder contribuir, quero ir curtindo o risco, na liberdade e na angústia da escolha e da tentativa...na possibilidade de conseguir fazer qualquer coisa útil que me faça feliz.
Quero, sim, ter objectivos...mas um deles é continuar a não deixar que sejam eles, os objectivos, a ter-me a mim.
Beijinhos

Vana disse...

Bom livro...
Relembraste-me de o reler....
bjo*