A Lua...
Hoje apetece-me abraçar o mundo, beijar as nuvens, sorrir para a Lua… De facto, já hoje lhe sorri, quando a vi gorda e brilhante, ao sair de casa de manhãzinha. Já nessa altura sabia que tinha que escrever, já sentia o que ia acontecer… Na realidade (seja lá o que ela for), não percebo estas expressões amorosas súbitas quando o amor me desilude cada vez mais… Pelo menos esse tipo de amor. Esse teu amor.
A minha mente criou-te como uma personagem de um sadismo passivo-agressivo, cuja imagem distorcida comete ainda, sem saber, crimes contra a pessoa que acho que sou (será que sou? quem sabe se existe afinal?!).
Matas-me aos poucos, eu mato-me aos poucos… Ignoras o sangue nas tuas mãos, como se não as tivesses cravado no meu peito para retirar as entranhas e as espalhares por aí… Simplesmente fizeste-o, já não te lembras porquê e isso também não te importa…
Mas a minhas mãos também estão sujas… Não da tua pele, nem do teu cabelo. Não, porque simplesmente não te tentei deter. As minhas mãos estão sujas do meu próprio sangue… Já não sei se fui eu ou foste tu… Só sei que este buraco no peito dói.
Quando não estás, dói mais ainda… Mas alguma vez estiveste!? Mesmo que apenas por um momento, alguma vez estiveste comigo na minha escuridão!? Como pode a minha mente ocupar-se contigo?! Porquê tu? Sempre tu… Ou então, porquê dar outro rosto a esta descida!? É só uma face, um nome, é só um rótulo… A queda é sempre a mesma, só precisa de um pretexto…
Nem agora que me envaziáste de todo o meu conteúdo físico, de todos os fluidos que me mantinham neste mundo, no teu mundo, nem agora, tiveste alguma consideração por mim… Mas eu ajudei-te no teu trabalho. Pelo menos desta vez levaste alguma coisa até ao fim! Pena ter sido o medo e a raiva a impelir-te… Podia ter sido o Amor… Ora, seria tão simples e tão romântico… Matavas-me e imortalizavas-me… por Amor! Seria sempre tua, e ninguém mais poderia existir para mim, depois de ti! Mas não… Isso exigiria demasiada entrega e esforço. Nunca o conseguirias.
Dou comigo a rir a bandeiras despregadas! O mundo é irónico e contraditório… Como poderia eu alguma ver ser outra coisa senão relativista?! Ai… tento conter o nó na garganta da gargalhada que quer sair… E continuo a querer amar o mundo! No fundo, tu fazes parte do mundo… mas apenas do Meu mundo… Não existes, fui eu que te criei! Então, mas… Se tenho o poder de criar também tenho o poder de destruir! Posso sempre matar-te! Mas se te mato, que cara tenho eu para dar a isto? E se o paraíso quiser voltar!? Não… O paraíso nunca será tão profundo e rico como o abismo… Está-lhe na natureza…
Está tudo muito bem assim! Até esta dor de morte está bem, apesar de me lamentar gritando ao vácuo que me envolve…
Acho que vou juntar nas minhas entranhas profanadas e tentar arrastar este corpo dilacerado por ti, por mim, para fora daqui…
Mas para onde?
Onde?!
Não há mais nada…
Queria abraçar o mundo, beijar as nuvens, sorrir para a Lua.
Só queria ver a Lua uma última vez…
Agora sim, sou tudo o que sempre pensaste de mim.
NADA
A Lua... uma última vez…
A Lua...
A... Lu... a...
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[tks Miss Vana(trip)! Sing with me: "If Heaven’s really coming backI hope it has a heart attack!"]