terça-feira, novembro 07, 2006

Não consegia simplesmente desligar o PC ir ir dormir... Estas ideias ferviam a massa cinzenta e a tela e as tintas chamavam demasiado para o tempo que lhe posso dispensar agora.
Percebendo que sem canalizar esta energia para algum lado, não conseguiria adormecer, decidi pedir palavras... deram-me uma frase.

"Na vida nada é a preto e branco, é tudo preenchido por muitos tons diferentes de cinzento."
(Kraznaros)


Faz sentido não faz?! Logo assim à primeira leitura, sente-se um click “está tudo lá”…
Pois, mas eu pedi um mote… Deram-me um mote e agora tenho que fazê-lo crescer…

Quando, pela primeira vez, fotos minhas foram expostas, um entendido fez-me uma série de perguntas difíceis sobre as suas tonalidades… Mas afinal aquilo era preto e branco ou bege e castanho?! Ficaria melhor com outro contraste?! Não estariam os tons muito empastelados!?

Parvoíce… Pensei eu na minha cega ignorância… Preto e Branco seria sempre Preto e Branco em todo o lado.

Um dia, essa pessoa convidou-me a ver algumas das suas fotos e, como o néscio precisa de ver primeiro para creditar, eu percebi do que ele estava a falar…
Realmente, aquelas fotografias tiradas com câmaras analógicas que já muita gente arrumou na arrecadação, aquelas fotografias que caiam de um monte caótico de fotografias de tamanhos diferentes, aquelas fotografias mal centradas no papel, aquelas fotografias, eram tão mais reais e mais fortes do que qualquer foto minha que eu pudesse achar ter expressividade e imaginação… Aquilo era preto e Branco!
Depois, pacientemente, o meu mestre explicou-me que afinal não podia ser branco… Se deixássemos partes da imagem a rebentar de puro branco, era desconfortável ao olhar, além de se misturar com as margens e, assim, perder contornos.
E o preto… O preto também não podia ser bem preto, tínhamos que enganar o fotómetro, senão, não conseguiríamos distinguir a malha da camisola da rapariga, e as suas roupas e os seus cabelos escuros, iriam misturar-se com o fundo negro do cenário…
Portanto, o analógico era Preto e Branco. Mas no fundo nunca podia ser preto nem nunca podia ser branco.

Com a vida passa-se o mesmo…
Quando começamos a viver, cegos leigos a passear pelo mundo, tentando perceber os comos e os porquês, tudo parece ou bom, ou mau; ou cheio ou vazio; ou frio ou quente; ou saudável ou doente…
Vamos caminhando pela nossa espiral do crescimento e muitas pessoas vão cruzar o nosso trilho, vamos contornar muitos obstáculos, saltar de precipícios quando não há outro caminho, ou, simplesmente, vamos parar para contemplar uma flor ou uma paisagem.
Nesta nossa viagem vamos aprender que tudo é relativo…
- O bem já contém em si o mal.
- As pessoas afinal são boas, fazem é coisas que nós consideramos más.
- “Um copo meio vazio, também está meio cheio” e “De que é que temos que encher um barril para ele ficar mais leve?! De Buracos!”
-Ponham a mão num copo com água à temperatura ambiente. Depois, coloquem a outra mão num copo com gelo e depois coloquem-na no primeiro copo de água “fria”. Está quente, não está?! =)
-Ser saudável, é só não estar doente?!

Tudo é relativo e por mais que tentemos ser fiéis a determinados princípios, muitas vezes damos connosco a pensar que os traímos, exactamente porque nada é puro e estanque.

Tenho que usar os truísmos (i.e. “verdade que não explica porra nenhuma!” (Palma, 2005)) e dizer “Tudo está relacionado com tudo.” E “O Mundo é muito complexo!” porque é isso que enriquece a nossa percepção de realidade. Tudo se entrelaça numa teia de tons que vão deste o primeiro nível de cinzento, até ao último nível de cinzento....
Mas não Preto.
Mas não Branco.
[quero deixar um beijinho ao autor do mote e também ao mestre citado no texto (que merece parabéns especiais, pois os conhecimentos foram-lhe reconhecidos :D). Noutro blog, alguém diria "mais umas peças para o meu puzzle!", neste será mais "... companheiros de jornada!"]

2 comentários:

Drifter disse...

Grande texto, senhora fotógrafa! Grande texto! Um belo raciocínio!

Marcos Sobral disse...

tambe´m gosto muito mais das minhas fotos a preto e branco analogiko e reveladas (tanto o rolo como em papel) por mim no laboratorio no meio dos kimikos e ver a imagem a aparecer a a formar-se, k e sempre akele momento magiko e mistiko.
a vida nao e a preto e branco ? nao sei
como disse um dos heteronimos de Pessoa (se n me engano caeiro) "Vejo o mundo como sou e nao como ele é"