sábado, fevereiro 24, 2007


As pessoas não se lembram de ter visto o mar como hoje… As vagas, gigantes, avançavam apressadas e altas, para rebentar com toda a força logo antes das falésias, erguendo-se muitos metros no ar, quais géisers, à nossa frente! Por todo o caminho, do Guincho a Cascais, se viam prédios de espuma branca que nos faziam sentir pequenos, na nossa condição humana. Os rugidos de Posseidon ecoavam na noite enevoada e fria. Não pude deixar de me aproximar dos jactos de água e olhá-los de baixo, deste meu corpo que habito, apercebendo-me da pequenez de tudo o resto! E o mundo em redor desapareceu e era já só eu e o bramido das vagas que vinham suicidar-se nos penhascos, elevando-se nos céus do quarto crescente. Segundos de espera entre os corpos de água que encorpavam à medida que a maré enchia, um novo urro, um sssshhheeeee da água que voltava ao seu curso… Um nada que somos e um tudo do resto que é. Se uma experiência mística é a anulação do ser, acho que não precisei de substâncias para a conseguir.

Mais um lugar e um momento, que é meu e não é de ninguém, porque eu vivi-o mas deixei de existir, o meu corpo desapareceu, os meus limites confundiam-se com os do céu e do mar, deixando de saber se estava lá alguém mais, além do ser pensante que me sou.

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