E se o mundo tivesse um botão de self-timer?!
Dei comigo a pensar nisto hoje. Os nossos olhos são câmaras fotográficas de grande formato. As nossas lentes captam a realidade à nossa volta, com mais ou menos zoom, maior ou menor ângulo, mais ou menos detalhe. O nosso fotómetro por vezes engana-se e vemos as coisas mais escuras ou então obtemos imagens sobre-expostas. Podemos captar os acontecimentos com maior ou menor velocidade de obturação, consoante olhamos as cenas de forma mais dinâmica ou mais demorada. Podemos ainda centrar-nos num determinado aspecto da vida, mais próximo de nós, desfocando tudo o que fica em pano de fundo, ou, pelo contrário, abranger uma grande profundidade de campo. Além disso, podemos pôr no automático e seguir as convenções, focar como todos os outros focam. Ou podemos ser ligeiramente mais específicos e usar modos para cada situação: pessoas, movimento, paisagem, close-up…
Penso então, porque não vimos equipados com uma função de self-timer?! O mundo não tem essa função. Isso tem uma série de implicações.
Primeiro, vemos o mundo de fora. Simplesmente não nos podemos observar a nós próprios sem estar neste corpo que temos que carregar para todo o lado. Sem que alguém nos fotografe ou filme, condições já de si filtradas e pouco naturais, não podemos ver-nos a nós no mundo, de forma neutra. Um self-timer dar-nos-ia tempo suficiente para nos afastarmos da câmara e colocarmo-nos na nossa imagem do mundo.
Seria igualmente útil poder programar o tempo de espera para o “momento decisivo” que neste caso não seria “decisivo”, tal como “decide” Cartier-Bresson, pois não teria a componente espontaneidade. De qualquer forma, poder programar o tempo para aquela situação específica seria uma grande vantagem. Quantas vezes somos confrontados com decisões urgentes, escolhas imediatas e reagimos impulsivamente, nem sempre da forma mais adaptativa?! Ora, se tivéssemos um self-timer no nosso painel de controlo, poderíamos programar essas decisões para dali a 10 segundos, corríamos, arranjávamos o cabelo, a pose, Click!
Quando as cenas são demasiado escuras, um self-timer é do melhor! Tripé, programa-se, foca-se, click! É que temos tendência a tremer e quando a vida é mais negra, é coisa que não se pode fazer! É preciso tempo para apanhar a luz. É preciso parar, concentrar, esperar… E com longos tempos de exposição exigidos por ambientes muito escuros, sem self-timer não conseguimos uma imagem nítida.
Se além do self-timer incorporado, o mundo per se tivesse essa função, poderíamos controlar o nosso tempo e também o das outras pessoas que partilham connosco a vida. Podíamos largar o nosso corpo e voar em lugares mágicos, como o homem do Último Voo do Flamingo que pendurava o esqueleto de noite para poder sonhar sem o peso dos ossos… Não teríamos que nos preocupar com as responsabilidades porque o tempo estaria parado durante aqueles 30 segundos… Viver sem o fardo material e sem preocupações do que há para fazer, ainda que durante poucos segundos, deve ser a maior sensação de liberdade. Não haveria impossíveis. Aqueles segundos eram nossos, podíamos fazer deles o que quiséssemos. O mundo não iria saber. Dali a 30 segundos voltava ao que era e não dava por nada. Não tinha que haver escolha. Se duas coisas são incompatíveis -> self-timer -> faz-se a que poderia ser mais estranha ao mundo -> 30 segundos -> vida “normal”.
Ando a ver filmes a mais?! Ficarei um dia como a Avó Morte?! Não sei… Sei que este espaço-tempo não me chega! Não caibo nele! Estrangula-me as asas! Quero voar!
Penso então, porque não vimos equipados com uma função de self-timer?! O mundo não tem essa função. Isso tem uma série de implicações.
Primeiro, vemos o mundo de fora. Simplesmente não nos podemos observar a nós próprios sem estar neste corpo que temos que carregar para todo o lado. Sem que alguém nos fotografe ou filme, condições já de si filtradas e pouco naturais, não podemos ver-nos a nós no mundo, de forma neutra. Um self-timer dar-nos-ia tempo suficiente para nos afastarmos da câmara e colocarmo-nos na nossa imagem do mundo.
Seria igualmente útil poder programar o tempo de espera para o “momento decisivo” que neste caso não seria “decisivo”, tal como “decide” Cartier-Bresson, pois não teria a componente espontaneidade. De qualquer forma, poder programar o tempo para aquela situação específica seria uma grande vantagem. Quantas vezes somos confrontados com decisões urgentes, escolhas imediatas e reagimos impulsivamente, nem sempre da forma mais adaptativa?! Ora, se tivéssemos um self-timer no nosso painel de controlo, poderíamos programar essas decisões para dali a 10 segundos, corríamos, arranjávamos o cabelo, a pose, Click!
Quando as cenas são demasiado escuras, um self-timer é do melhor! Tripé, programa-se, foca-se, click! É que temos tendência a tremer e quando a vida é mais negra, é coisa que não se pode fazer! É preciso tempo para apanhar a luz. É preciso parar, concentrar, esperar… E com longos tempos de exposição exigidos por ambientes muito escuros, sem self-timer não conseguimos uma imagem nítida.
Se além do self-timer incorporado, o mundo per se tivesse essa função, poderíamos controlar o nosso tempo e também o das outras pessoas que partilham connosco a vida. Podíamos largar o nosso corpo e voar em lugares mágicos, como o homem do Último Voo do Flamingo que pendurava o esqueleto de noite para poder sonhar sem o peso dos ossos… Não teríamos que nos preocupar com as responsabilidades porque o tempo estaria parado durante aqueles 30 segundos… Viver sem o fardo material e sem preocupações do que há para fazer, ainda que durante poucos segundos, deve ser a maior sensação de liberdade. Não haveria impossíveis. Aqueles segundos eram nossos, podíamos fazer deles o que quiséssemos. O mundo não iria saber. Dali a 30 segundos voltava ao que era e não dava por nada. Não tinha que haver escolha. Se duas coisas são incompatíveis -> self-timer -> faz-se a que poderia ser mais estranha ao mundo -> 30 segundos -> vida “normal”.
Ando a ver filmes a mais?! Ficarei um dia como a Avó Morte?! Não sei… Sei que este espaço-tempo não me chega! Não caibo nele! Estrangula-me as asas! Quero voar!
E tudo isto por olhar para esta foto que o menino Zé me tirou, num momento inventado do tempo, no meio de sebentas e artigos, enquanto eu procurava literalmente o self-timer…
2 comentários:
este e dos textos mais geniais k ja li ! nao so pela sua analogia fotografika, mas pelo seu konteudo. era lindo se houvesse um self timer, e pudessemos ver as borradas k iriamos fazer kd estamos estupidamente de cabeça kente....sim pk nao ha NINGUEM k nao faça porkaria e borrada e erros por estar de cabeç kente....as koisas k poderiamos evitar....era tao bom....
O self timer da nossa vida afinal existe no nosso pensamento, pode não ser real, podemos não sentir na realidade "como seria" "o que seria" ou "talvez fosse" mas podemos imaginar, podemos navegar cá dentro e sonhar.
E quem sabe muitos desses sonhos não se realizem, se calhar não muitos mas pelo menos alguns.
Não deixes nunca que te cortem as tuas asas do pensamento...
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