terça-feira, março 06, 2007

Acordo e no entanto os meus olhos estavam já abertos e a minha mente já via tudo o que se passava em meu redor. Não me posso mexer, não consigo sentir um só músculo do meu corpo. As minhas pupilas dilatam, há sangue por todo o lado, há gritos lancinantes que cortam o ar escuro de odor putrefacto, há punhais de vidro e cordas de piano, há os que gritam e os que fazem gritar, nas suas faces neutras e movimentos calmos, como se houvesse tempo para o que querem fazer. Também eu estou nas mãos deles, também coberta em sangue. Com a diferença de que já não sinto, não posso sequer gritar, implorar, e para dizer a verdade, não quero sair desta sala. A única coisa que me ocorre é salvar aquelas almas. Não, não quero vingança dos que torturam, só os quero afastar dos que gritam. Em que pensarão uns e outros?! O que querem neste momento?! Serão coisas assim tão diferentes?! Se conseguisse fechar os olhos… Mas as minhas pálpebras estão cosidas obrigando-me a assistir a este cenário. Mais um bisturi e olho nos olhos de quem mo crava na carne. São tão humanos como os daqueles que gemem e lamentam. Querem apenas acabar para se sentirem bem. Até quando?! Não suporto os gritos! São eles que me matam de impotência e frustração. E os meus músculos não se movem. E no entanto bastava apenas colocar-me no meio, entre as duas pessoas que procuram a mesma coisa de forma diferente, olhar cada um como o ser único que é, e deixá-los partir libertos dos padrões de vítima e de agressor que lhes garantem uma aproximação ao bem-estar. Quero salvá-los para poder morrer em paz. Já não sinto nada. E de repente estou no meu quarto, à media luz, enquanto ouço a forgiven dos Within Temptation e escrevo como se estivesse a tocar piano num concerto, inebriada pelas luzes, guitarras, vozes, gritos e fumos. E apesar disso não me sinto aliviada, pois tudo aquilo permanece aqui comigo. E não me posso mexer. Condenada a gritar em silêncio quando a agonia me escorre pela face, sem que eu possa sentir o seu frio húmido, fechada no meu próprio corpo, querendo correr para os libertar. Não sei quando terminará a noite, mas não será amanhã. E tudo o que posso fazer é esperar, olhos abertos para as atrocidades que me rodeiam, sem que haja ninguém para culpar, para colar a fotografia no alvo, atrás da porta, e arremessar os dardos da libertação. Por quanto tempo calar se todos os outros sentidos estão tão bem apurados? E já nem dedilhar me faz sentir outra esperança, outra luz, um pouco de calor.
Quando?
Haverá um quando?
Ou estarei condenada a morrer prisioneira do meu próprio corpo?

1 comentário:

Marcos Sobral disse...

nao sei kd akabara a noite mas n sera amanha....