quinta-feira, março 29, 2007

Depois de uma aula muito intensa que oscilou entre as lágrimas e a tentativa “engenheira”, “tiazoca”, “kiduxah” e “mitra” de enfiar a caneta num copo, aquilo que tinha planeado postar aqui tornou-se demasiado forte, íntimo e até desadequado…

Sim, foi mesmo uma aula de mestrado! A prova é que aquelas quatro horas semearam ideias (tal como diria o meu mestre Carl Whitaker) que estão agora a nascer…

Por um lado, a construção da carta de agradecimento, foi uma Experiência que me colocou várias dúvidas. Primeiro sobre o sentido do agradecimento, sobre a palavra “obrigada” (que eu detesto, mas para a qual ainda não encontrei uma alternativa pragmática), depois sobre as pessoas a quem agradecer (ou “mostrar importância por”), o que dizer, até onde vão as palavras, e ainda, a grande questão:

Serei eu capaz de dizer isto que escrevi, directamente à pessoa!?

Na partilha percebi outras coisas mais… vi que a maioria das outras pessoas têm uma coisa chamada “pais” a quem agradecer, que dão graças por pequenas coisas, que dizem “obrigada”… Impressionou-me quem agradeceu a uma pessoa que mal conhecia e que tinha morrido há poucos dias… Pelo que significou a existência e a morte para toda a família, também ela se sentia agradecida… Percebi que muitas pessoas não tiveram qualquer dificuldade em expressar a sua gratidão, e até o fazem regularmente, e outras estavam mais rígidas nas suas palavras (como eu, talvez…)… Foi portanto, uma partilha interessante.

Porque tudo isto do experiencial que já me fascinava antes, dado ser uma personagem existencial, um “homem absurdo” (como diria Camus), me faz imenso sentido, porque é isso que nos permite Crescer!!

E no fundo, esse é o denominador comum do meu dia e também da minha viagem… evoluir na espiral do crescimento, mas com uma espécie de manto de amor das pessoas de quem me rodeio…

E da terapeuta familiar da escola experiencial/simbólica, que me vai ocupar as próximas semanas, fica:

“We need 4 hugs a day for survival. We need 8 hugs a day for maintenance. We need 12 hugs a day for growth.”

Virginia Satir

1 comentário:

José Lima disse...

Agradecer, sentir-se grato ou dizer simplesmente obrigado não são para mim mais do que expressões que se aplicam em contextos simples e situações banais... Não sei se por culpa minha ou das palavras se encontrarem gastas por fazerem parte quase de uma etiqueta diária... É como a história dos amigos e dos conhecidos... Quem é nosso amigo? A quem nos sentimos genuinamente gratos e porquê?

Sentir-me realmente tocado por algo que alguém fez por mim ou que fez por outra ou outras pessoas (uma pessoa não tem de se sentir genuinamente agradecida apenas por algo que alguém fez por ela) foi algo que senti raras vezes durante a vida (raras se calhar é forte demais mas eu sou demasiado diferenciador... por exemplo é raro dar uma nota acima de 17 aos alunos, aliás raro não sei, acho que nunca dei sequer... ás vezes espero demasiado das pessoas...),uma carta de agradecimento seria portanto para mim algo de muito complicado, não sei se por ter uma vida bastante fácil que não justifica nenhuma acção ou espaço de tempo em que alguém "está lá por mim", acho que provavelmente iria agradecer mais a alguém que fez algo por outras pessoas... E se formos ver em termos de personalidade eu não deixo muito que me ajudem, faço muito o contrário, coloco sempre as outras pessoas primeiro e depois venho eu, por isso era complicado arranjar tema para agradecimento (pais? talvez, mas em situações normais os filhos devem sempre estar agradecidos aos pais, não é necessária uma carta de agradecimento)

Mas diria tudo o que escrevesse directamente a essa pessoa, não por reconhecimento, porque quem genuinamente ajuda ou "está lá" não o faz para ser reconhecido, mas porque simplesmente gostaria de partilhar com essa pessoa tudo aquilo que penso, porque nela estava no mínimo uma pessoa que me poderia ensinar a ser melhor... Porque me sentia mesmo genuinamente agradecido e tinha de colocar isso em palavras faladas!

...

Gostei dos hugs e fora do sentido literal da palavra, recebemos mais hugs durante o dia do que aqueles que damos por isso :) (agora que penso nisso), é como a lista de coisas boas que nos acontecem durante o dia, estão lá, nós é que ás vezes não lhes damos o devido valor.

Aquilo que nos vai tornando cada vez menos nós é a rotina, é o estar parado em movimento...

"Rotina

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos."

- Eugénio de Andrade