segunda-feira, janeiro 29, 2007

Anzol

A árvore de tronco em arco é-me familiar. Quantas vezes terei passado por ela?! Sento-me no tapete de folhas macias, cruzo as pernas e encosto-me. As grandes árvores anciãs terão sempre este aspecto protector, como se pudessem tornar-se em ents e abraçar-nos com os seus ramos, proteger-nos do frio, fazer-nos sentir menos sozinhos.

Não sei há quanto tempo ando em círculos. Primeiro em pânico. Quem não entraria em pânico ao acordar no meio de uma floresta?! Gritar por ajuda. Puxar os cabelos. Atirar-me para o chão. Recomeçar de novo.

Parece que passaram já muitos anos desde que me senti assim. Na verdade, agora estou calma. Já conheço a floresta e sei para onde quero ir. Só não estou ainda certa quanto ao caminho. As cabeleiras fartas das grandes árvores passaram dos verdes aos alaranjados. Fui conhecendo os seus ciclos e assim tornei-me sua amiga. Esperei o tempo necessário até que os meus medos voassem com o vento, pois nunca conseguiria ver o caminho dessa forma. E estou quase pronta. Não sei se vai aparecer algum sinal que me diga para começar. A única saída plausível é aquela cheia de silvas e mato. Quanto terei que sangrar para chegar à pequena casa do lago?! E se a casa está vazia e foi tudo um sonho!?

O bom de estar sozinho são os sonhos. São mais coloridos e ricos, têm mais esperança e calor. De quanto tempo precisei de andar às voltas nesta floresta de caminhos intransponíveis!? Quanto tempo até percebermos que pode não existir uma seta a indicar a direcção e um caminho largo e seguro para percorrer?! Quanto tempo para fazer as melhores escolhas!?

O tempo que for preciso.

Levanto-me, abraço o tronco gordo da árvore que me acolheu e partilhou comigo as histórias intemporais que lhe correm na seiva. Está quase. Só espero um sinal. Quando vir fumo no ar, saberei que posso começar a caminhar pelo carreiro outrora temido.

...e se não estiver ninguém na casa do lago?

É só esperar até avistar o fumo.

...e se estiver vazia?
O fumo....
...não poderei fazer o caminho inverso.
Esperar...
...é como anzol na carne, tem que sair pelo lado oposto e fazer outra ferida.

A lareira será acesa….

…morrer aqui com a grande árvore.

O sinal.

4 comentários:

Marcos Sobral disse...

podia dizer um milhao de koisas sobre o texto, mas muito resumidamente so posso dizer k esta excelente mm.... (e eu gostaria era de ter a casa da foto)

Drifter disse...

Não existem escolhas melhores e escolhas piores. Apenas existem escolhas. A nossa vida é um constante tomar de decisões e, por muito que nos esqueçamos disso, não há opções certas ou erradas. Simplesmente, as opções que tomamos definem aquilo que somos e, é por isso que estamos em constante crescimento. Se o teu ser te impele a atravessar o caminho cheio de silvas e, se não existem outros caminhos ou os que existem apenas levam a lugares menos interessantes, então a decisão que há a tomar está tomada. E se... E se a casa estiver vazia? E se a casa não for assim tão interessante que mereça a pena entrar ou permanecer dentro dela? Não quer dizer que a decisão foi errada. Tudo bem, sofreu-se para chegar lá, mas todo esse sofrimento faz parte do nosso percurso e da nossa aprendizagem. A seguir, se a casa estiver realmente vazia, poderás partir para uma nova jornada à procura de um novo sítio cheio de beleza e de história.
Não há decisões certas ou erradas... Lembra-te que a casa pode realmente estar habitada. Ou então, se não estiver e, se numa outra jornada vieres a encontrar uma casa em que realmente te sintas completa, poderás olhar para trás, para o teu "erro" e pensar: "não correu como eu esperava, mas o que é certo é que me trouxe aqui, onde eu estou e, por isso, valeu a pena...". Acima de tudo, ouve-te a ti mesma sem, obviamente, deixar de ouvir aqueles que te acompanham na definição da tua identidade.

Lembra-te: não há escolhas certas ou erradas...

Anónimo disse...

olá mha querida!!!! Tenho que começar por dizer que achei o texto mto bonito...msm...ainda mais pq é sentido e faz sentido... As escolhas nc são fáceis, aliás o que custa msm é decidir, escolher, assim que o fazemos seja qual for a decisão passa a angústia quase num passe de mágica...E acho que é msm verdade qdo ouvimos dizer que mais vale viver, do que ficar a pensar "e se" se não correr bem e nos magoarmos, tb daí há-de vir qq coisa, nem que seja experiência para mais tarde dizermos que não guardamos arrependimentos pelo que não vivemos...não estou propriamente mto fluente hj pa discorrer sobre o assunto...só te posso dizer que "no matter what" estarei smp aqui, podes não me ver diariamente, não me ouvir diariamente, mas eu estou ctg todos os dias, lembra-te smp disso e qdo o caminho tiver mtas silvas, mtos obstáculos, chama-me... eu dou-te a mão e vamos juntas...assim custa menos!
um bjinho enormeeee e carregado de saudades*****Sophie

José Lima disse...

Se existe algo que eu já aprendi é que se há algo que queremos na nossa vida temos de arriscar, temos de pelo menos caminhar nesse sentido...

Podemos ser cautelosos e não alimentar muitas esperanças ou podemos ser muito seguros de nós e começar logo a imaginar "como vai ser bom" quando alcançarmos o fim do caminho... quando chegarmos à casa... Depende da forma como lidamos com decepções... Mas isso é paralelo, temos sempre de seguir aquilo que os nossos olhos querem ver, não apenas aquilo que eles estão a ver, queremos sempre sentir mais, viver mais!!

Não podemos nunca sentir-nos confortáveis e deixar que a segurança do nosso dia a dia nos vá murchando a nossa alegria de viver, a nossa energia...

Lembra-te da chama... Não só temos de a conservar como também a devemos alimentar, deixá-la crescer...

Eu sei o que quero, será que consigo? Não sei mas não é isso que me tenho de perguntar, tenho de caminhar e quando chegar ao fim logo se vê, no mínimo aproveitei o percurso e ganhei algo de mais para mim.