terça-feira, janeiro 23, 2007

“Olha para mim”…


(© Henri Cartier-Bresson)

Andava aqui a acabar as leituras sem nunca acabar de contemplar as imagens de Augusto Brázio (colectadas num "Olha para mim" e oferecidas por alguém que me é muito querido, e sim, o senhor da senha n.º 2 pode avançar) e pensei em escrever um pouco sobre o significado atribuído aos retratos frontais ou de perfil. Em como os primeiros criam uma forma de idealidade, têm uma ligação com o sagrado e o peso das relações subjectivas, são intemporais e universais e correspondem aos rostos humanos “sem data nem lugar”. Já quem se deixa fotografar de perfil tem um “papel de reinante”. Estas imagens são consideradas profanas, segundo esta tipologia de Calabrese (seja lá quem for), mais ligadas ao concreto e a um contexto histórico e, portanto, singulares. Depois comecei a pensar na intemporalidade de muitos retratos de perfil que já vi, e avancei umas páginas.
Cheguei então a um excerto sobre a pose… e como a pose pode ser natural ou não e de como usamos a pose no nosso dia-a-dia para dar impressões de nós… E das pessoas que “imprimem” na pose e as que “não imprimem” deixando derreter a máscara. …

Mas depois aquele que vai ser retratado tenta compor uma personagem e o excesso de artificialismo acaba por ser nocivo”… “excesso de sorrisos”…

Bang!
Desde pequenos… Estamos a comer e a sujar tudo à nossa volta, estamos no banho ou a andar de baloiço e vêm os avós, os pais, os tios, com as intrusivas câmaras e o que é que eles dizem???

Olha o passarinho!!”

E a criança ri mesmo sabendo que nunca vai encontrar o raio do passarinho de que lhe falam! Ri porque imagina um passarinho a sair da câmara! Ri porque é criança!
Esta é a parte fácil de fotografar as crianças, porque elas estão sempre a rir no seu mundo fantástico e inocente!

Depois começa a ser mais complicado rir com passarinhos, e no estúdio, nos casamentos, baptizados, festas de anos, o fotógrafo tem que dizer “sorria!”.
Questão: Porque raio têm as pessoas que ficar a sorrir nas fotografias?!
Para as pessoas guardarem momentos “felizes” e mostrar aos filhos e aos netos?! E quantos fretes já fiz eu em casamentos, baptizados e sítios onde não queria estar e ainda me fizeram “sorrir”! E depois vão poder dizer “foi um dia tão bonito! Estavam todos tão felizes!” baaah Eu não vim ao mundo para alimentar egos alheios!

Há pessoas que não gostam dos meus retratos, porque não são a cores e as pessoas não riem. Eu prefiro capturar a essência do que a pessoa está a ser naquele momento e registar sem avisar. Se a pessoa não está a sorrir é porque não quer, não lhe apetece, não tem razões para isso! Quantos retratos lindos já vi de pessoas em introspecção?! Mas aprece que muitas pessoas continuam a preferir a pose, muitas vezes fútil e egocêntrica, do sorriso, em vez de um perfil pensativo, um rosto com lágrimas, uns olhos que gritam….

Não me interpretem mal, gosto de capturar um bom sorriso espontâneo ou uma gargalhada que se ouve na imagem. Mas não gosto do “sorri” convencional. Aliás, não gosto de coisas convencionais! Não gosto de pessoas que estão sempre a rir como se o mundo fosse cor-de-rosa! Tirem os óculos! Não gosto de pessoas que não aceitam as lágrimas, o olhar vazio, o sorriso descaído, como se achassem que ninguém no mundo tem o direito de não estar “contente”.

Gosto ir ao fundo da pessoa e expor-lhe a essência. E só posso fazer isso, se dentro dela, o seu espirito me disser:


"Olha para mim...."




Hoje deixo uma foto de um dos meus fotógrafos favoritos, Cartier-Bresson. Um artista da simplicidade e dos “momentos decisivos”. E porquê?! A nossa mente não é tabula rasa e é impregnada por diversos acontecimentos, pessoas, conversas. Ultimamente tenho andado a recolher imagens dele e ontem alguém me manda o homem a correr na poça da água :P E aqui está mais um registo seu!

2 comentários:

José Lima disse...

À uns meses atrás li um livro sobre fotoreportagens de pessoas no seu dia-a-dia, na sua cultura, nos seus ofícios, esse livro dizia algo como "pedir a uma pessoa para olhar para a máquina e deixar-se fotografar, colocar-se ali, fazer assim, olhar desta forma, não é captar a sua essência, nem da paixão que tem pelo seu ofício, nem a cultura do povo a que pertence. A fotografia de uma pessoa como ela é deve ser um diálogo apaixonado, em que a pessoa se mostra como realmente é naquele momento, em que mostra a sua paixão pelo seu ofício e cultura procedendo exactamente da mesma forma como se estivesse sozinha... um diálogo com ela própria..."

A felicidade faz parte da essência de uma pessoa, ou se sente ou então não passa de algo irreal, desenquadrado do momento, algo artificial, uma composição forçada...

"Olha para mim" é a mensagem que todas as pessoas nos passam, até quando são fotografadas, olha para mim como eu sou, como eu sou neste momento, como eu me sinto neste momento, não faças de mim algo forçado, sente o mundo à minha volta das mesma maneira que eu o estou a sentir... Apenas quem consegue ir ao "fundo da pessoa" é que de facto consegue "expor-lhe a essência".

Vê-me, escuta-me e entende-me como eu sou, como eu me estou a sentir neste momento, porque este momento e aquilo que eu estou a sentir agora é apenas parte de mim, eu sou muito mais, mas neste momento sou assim. "Olha para mim".

Marcos Sobral disse...

ganda homem a saltar na agua ! ;) esse sim foi o maior fotografo de sempre !
e é bem vddd, alias hj em dia provavelmente 80% das fotos k vemos as pessoas k akeles risos e sorrisos tao grandes e aparentemente alegres é so mm td pa foto....
e as melhores fotos nao sao as "falsas", alg x tera o cartier pedido a alg pa k lhe sorrisse pa foto ??....